Após pressão popular, mulher presa por assassinar seu estuprador é liberada para responder em liberdade

A barbeira e cuidadora Stafanie Marques Ferreira Candido, de 30 anos, foi presa no dia 23 de outubro acusada de matar o próprio agressor na cidade de São Lourenço (MG).

Após duas semanas de angústia por parte da família e denúncia de descaso por parte da defesa, Stafanie Marques Ferreira Candido vai responder pelo crime de homicídio em liberdade

Por Andressa Franco, Daiane Oliveira e Patrícia Rosa

A barbeira e cuidadora Stafanie Marques Ferreira Candido, de 30 anos, foi presa no dia 23 de outubro acusada de matar o próprio agressor na cidade de São Lourenço (MG). Segundo a defesa de Fanny, como costumava ser chamada, ela teria sido vítima de uma tentativa de estupro quando agiu em legítima defesa. Após repercussão nas redes sociais, a jovem foi solta no dia 10 de novembro para responder em liberdade pelo crime.

Fanny foi indiciada por  homicídio, mas a advogada de defesa, Amanda Scalisse alega que ela agiu em legítima defesa a uma violência sexual, sofrida pelo patrão, de 72 anos ,  que teria pedido para ela atuar como cuidadora no período noturno.

“Algo que a gente tem destacado bastante é que a Stefanie não sofreu uma tentativa de estupro, ela foi estuprada realmente”. De acordo com a advogada, ao ir trabalhar como cuidadora noturna na casa desse senhor, ele a surpreendeu pelas costas passando a mão nela e tentando beijá-la. “Ela conseguiu reagir, eles tiveram uma briga corporal, em certo momento da briga ela conseguiu ficar por cima dele tentando imobilizá-lo e ele acabou desfalecendo  e vindo a óbito.”

A polícia não foi chamada naquele dia, a irmã da vítima, Brenda Marques Ferreira, de 29 anos,  contou que na luta corporal com o idoso, um copo caiu no chão, provocando um corte profundo no joelho de Stefanie. A barbeira foi até a UPA de São Lourenço e retornou no dia seguinte, se deparando com os familiares do homem na porta da casa, perguntando por ele. Fanny disse não saber e se dirigiu ao trabalho na barbearia, onde foi presa em flagrante.

Silenciamento de Stefanie a alegação de legítima defesa e estupro 

A cuidadora de idosos foi presa por homicídio e a defesa alega que a palavra de Stefanie, como vítima de violência sexual, foi completamente anulada. “A polícia já encerrou a investigação e enviou para o Ministério Público, que já ofereceu denúncia contra ela, foi super rápido e é um crime que tem muitos contornos. A alegação de legitima defesa, de violência sexual não foi investigada.”

A advogada ainda relata que quando o processo foi analisado, a violência sexual e a luta corporal que traz a tentativa de defesa da jovem, não eram citdas,  apesar da Stefanie alegado no depoimento.

“A palavra dela foi totalmente anulada, o depoimento dela foi utilizado para  falar sobre a dinâmica dos fatos que ela descreveu, porque é a única prova que tem. Mas o relato do estupro, ninguém   se atentou a isso”, destaca a defesa. 

A irmã de Fanny lembra a desatenção da Justiça com a violência sofrida.“Tá meio complicado,  o juiz jogou ela no presídio e deu como homicídio qualificado. Foi um descaso com minha irmã, uma injustiça absurda”, desabafa Brenda. O Ministério Público de Minas Gerais foi procurado, mas até a publicação dessa matéria não houve respostas.

#JuntosPelaFanny

Para visibilizar o caso, familiares e amigos de Sthefanie criaram a campanha “Juntos pela Fanny” nas redes sociais. O perfil já conta com mais de cinco mil seguidores. Também foi criada uma vaquinha on-line para arrecadar dinheiro com o intuito de cobrir os custos com assistência jurídica, transporte das advogadas à frente do caso, visitas familiares e insumos para Sthefanie. O objetivo era arrecadar R$ 5 mil, e já ultrapassou R$ 8 mil.

“Viemos através dessa corrente de amor lutar em defesa da nossa amiga Sthefanie Marques que sofreu uma tentativa de estrupo, agiu em legítima defesa e foi injustamente presa”, informa a descrição da vaquinha.

Fanny se mudou para a cidade de São Lourenço em agosto do ano passado em busca de uma oportunidade no ramo da barbearia. Nas redes sociais, com pouco mais de 11 mil seguidores, ela compartilhava os trabalhos e a rotina na profissão.

“Sabemos como nossa sociedade trata pessoas negras, pobres, LGBTI e mulheres… Sthefanie sempre teve orgulho de dizer que é uma mulher preta, gorda e sapatão. Esses marcadores sociais infelizmente fazem diferença na forma como algumas questões são tratadas e alguns direitos são garantidos, ou não”, cita uma publicação do perfil que, nos últimos dias, concentrou posts de cobrança por repercussão do caso na mídia. Apesar da liberdade, Fanny ainda responde pelo crime.

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