Da Redação
Depois de 6 anos, 7 meses e 17 dias, chegou ao fim na noite da última quinta-feira (31) o julgamento dos réus confessos pelo assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz.
O primeiro, que é ex-policial militar e foi o autor dos disparos que vitimaram Marielle e Anderson, foi condenado a 78 anos, 9 meses e 30 dias de prisão. Já Queiroz, também ex-PM, que dirigiu o carro usado no crime, recebeu a pena de 59 anos, 8 meses e 10 dias. Eles também foram condenados a pagar R$ 706 mil de indenização às famílias de Marielle e Anderson, além de uma pensão ao filho do motorista, Arthur, até que complete 24 anos. Os acusados deverão arcar com os custos do processo e não terão o direito de recorrer em liberdade.
Marielle era vereadora no Rio de Janeiro e Anderson era o motorista do carro que foi alvejado no Centro do Rio, no dia 14 de março de 2018.
“A Justiça por vezes é lenta, é cega, é burra, é injusta, é errada, é torta, mas ela chega. A Justiça chega mesmo para aqueles que, como os acusados, acham que jamais vão ser atingidos pela Justiça. Com toda dificuldade de ser interpretada e vivida pelas vítimas, a Justiça chega aos culpados e tira deles o bem mais importante depois da vida, que é a liberdade”, disse a juíza Lúcia Glioche, do 4º Tribunal do Júri do Rio de Janeiro, ao ler a sentença.
A magistrada destacou as dificuldades de se investigar um crime, e prestou solidariedade pelos anos de sofrimento dos familiares. Ressaltou ainda como o homicídio de Marielle ceifou o direito de representação dos 46.502 eleitores cariocas que a fizeram a 5ª vereadora mais votada na cidade do Rio de Janeiro nas eleições municipais de 2016.
O julgamento começou na quarta-feira (30) e teve júri popular. Durante os dois dias, houve depoimentos de familiares das vítimas, como a mãe de Marielle, Marinete Silva; a viúva de Marielle, Mônica Benício; e a viúva do motorista Anderson Gomes, Ágatha Arnaus.
Depois da sentença, a irmã de Marielle e ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, disse à imprensa que a decisão foi o “pedaço de uma resposta” ao crime e que “a Justiça começou a ser feita”.
“O maior legado da Marielle, que ela deixa para esse país, é a prova de que mulheres, pessoas negras e faveladas, quando chegam nos seus postos, merecem permanecer vivas”, completou.
Na sequência, a família compareceu ao ato realizado no Buraco do Lume, no Rio de Janeiro (RJ), onde amigos, ativistas, coletivos e organizações se reuniram para celebrar a sentença.
A investigação da Polícia Federal apontou em março deste como mandantes do crime os irmãos Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio (TCE); e Chiquinho Brazão, deputado federal (sem partido-RJ).
Eles estão presos desde então e são réus em uma ação penal no Supremo Tribunal Federal (STF). Ambos negam o envolvimento com os assassinatos.
Na Câmara dos Deputados, tramita um pedido de cassação do mandato de Chiquinho Brazão em decorrência das acusações.