Por Jamile Novaes
No último domingo (16), cerca de 20 homens fortemente armados invadiram a retomada (ocupação) Pyelito Kue, na Terra Indígena (TI) Iguatemipeguá I, localizada no município de Iguatemi (MS). O ataque aconteceu entre 4h e 6h da manhã, deixando o indígena Vicente Fernandes Vilhalva, de 36 anos, morto com um tiro na cabeça. Ao menos quatro outras pessoas foram feridas por balas de borracha e disparos de arma de fogo. Entre elas, dois adolescentes e uma mulher, que foram alvejados nos braços e abdômen.
Segundo lideranças ouvidas pelo Repórter Brasil, os pistoleiros incendiaram pertences e barracos de lona, e tentaram recolher e levar o corpo de Vicente, mas foram impedidos pelos indígenas. Agentes da Polícia Militar do Mato Grosso do Sul e do Departamento de Operações de Fronteira (DOF) foram avistados entre os atiradores.
As lideranças também relataram que a Força Nacional de Segurança Pública (FNSP), a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) foram acionadas, mas só chegaram ao território ao final da manhã de domingo.
A TI Iguatemipeguá I, que engloba as aldeias Pyelito Kue e Mbaraka’y, possui 41.714 hectares e foi delimitada como terra indígena pela Funai em 2013, mas o processo de demarcação segue paralisado. As 120 famílias de Pyelito Kue vivem atualmente em uma área de 97 hectares delimitada por meio de um acordo judicial firmado em 2014.
No último dia 3 de novembro, os indígenas retomaram parte do território que está sobreposto à Fazenda Cachoeira e instalaram um acampamento no local. Desde então, a comunidade já foi vítima de quatro ataques que deixaram uma pessoa morta e ao menos 10 feridas.
Fake News
Na segunda-feira (17) a Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) divulgou uma nota afirmando que o suspeito pela morte de Vicente Vilhalva seria um indígena do mesmo território, identificado como Valdecir Alonso Brites, e que o assassinato teria sido motivado por uma briga interna. No dia seguinte (18), uma carta assinada por integrantes da comunidade Pyelito Kue foi enviada à Funai informando que o suspeito não é indígena e apenas morou no território dois anos atrás, quando era casado com uma Kaiowá. A carta aponta que Sejusp estaria alimentando fake news, como uma forma de criminalizar a comunidade, e pede que o caso seja investigado pela Polícia Federal.
Marcha Global em Belém
Povos indígenas de todos os continentes se reuniram em Belém (PA) na última segunda-feira (17) para a Marcha Global dos Povos Indígenas. A manifestação, realizada durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), apresentou reivindicações sobre cinco eixos centrais: Reconhecimento territorial como política climática; Desmatamento zero e fim da exploração dos combustíveis fósseis e de mineração nos territórios; Proteção dos defensores; Acesso direto ao financiamento climático; Participação com poder real.


