Por Andressa Franco e Patrícia Rosa
Em mais um passo importante para a construção da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, a 2ª Marcha Nacional de Mulheres Negras, ativistas da Bahia se reuniram na Biblioteca Central, nos Barris, em Salvador (BA), para a realização do I Seminário Estadual rumo à Marcha das Mulheres Negras.
O encontro aconteceu no último sábado (8), e contou com mais de 130 mulheres presentes, de 21 municípios baianos e de diversos territórios — do Sisal ao Baixo Sul, das quebradas às comunidades quilombolas e ribeirinhas, do campo à cidade.
Entre as discussões, destacou-se a urgente denúncia sobre o extermínio das juventudes negras, perpetuado pelo aparato militar do estado. As ativistas denunciaram que esse genocídio não se limita às áreas urbanas, mas se estende também aos interiores e zonas rurais da Bahia, onde essa população é constantemente assassinada, seja pela violência policial ou pelas condições estruturais de exclusão e opressão.
“Quando a gente pensa em Reparação e Bem Viver, precisamos falar da política de segurança pública da Bahia, que quando não encarcera os nossos filhos, mata. Mata não apenas jovens, mas as nossas crianças, que não podem mais sair da porta de casa para brincar”, declarou Laina Crisóstomo, fundadora da organização Tamo Juntas e ex-vereadora pela mandata coletiva Pretas por Salvador. A advogada ressaltou ainda que é este mesmo projeto político o responsável pelo aumento significativo no encarceramento de mulheres negras no Brasil.
As ativistas também denunciaram como o feminicídio, lesbocídio, transfeminicídio, o trabalho escravo, a violência política de raça e gênero, além da violência contra comunidades tradicionais, são parte integral deste projeto genocida. Às mulheres negras, travestis e mulheres trans é destinado o maior número de violências, dentre elas mortes, com requintes de crueldade e invisibilidade política.
A também ex-vereadora da mantada coletiva Pretas por Salvador, Cleide Coutinho, desabafou sobre as violências sofridas no período enquanto parlamentar, e a preocupação com as mulheres negras que hoje ocupam esses espaços.
“A morte da companheira Marielle Franco nos despertou a ingressar na política como forma de avanço nessa luta, mas também temos recuado por conta das violências que sofremos dia a dia no parlamento. A Marcha está preparada para fazer esses enfrentamentos”, ponderou Cleide, que também lembrou dos desafios cotidianos que afetam a vida das mulheres negras, como a falta de creches para seus filhos, acesso à saúde e até mesmo o preço dos alimentos.
Já Milca Martins, presidenta do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos da Bahia (SINDOMÉSTICO/BA), chamou atenção para a luta pelo fim do trabalho análogo à escravidão no país. “É um tema que a gente precisa levar para a Marcha, e precisa pressionar nossos governantes. Porque depois que essas trabalhadoras domésticas são resgatadas, o que fazer? Precisamos fortalecer essa luta e invadir Brasília, as câmaras municipais e assembleias com mais de 1 milhão de mulheres”, declarou sob aplausos.
Uma preocupação expressa por várias ativistas foi a importância de que a Marcha chegue em todos os cantos da Bahia: dos interiores ao Semiárido, do Agreste ao Portal do Sertão, e por todos os territórios.
Todos os estados do Brasil já instituíram seu Comitê Estadual, e estão instituindo os municipais. Mais que isso, a Marcha já é um movimento global, principalmente diante da necessidade de refletir sobre o impacto do crescimento do fascismo no mundo.
“As mulheres negras do mundo foram sensibilizadas pela nossa narrativa de que a Marcha é um movimento revolucionário, e uma das grandes estratégias que temos neste momento para fortalecer uma luta e uma agenda global”, afirmou Naiara Leite, coordenadora executiva do Odara – Instituto da Mulher Negra.
A ativista ressaltou a importância da decisão de criar um comitê global rumo à Marcha, cuja perspectiva é de que mulheres de diversas partes do mundo se juntem às brasileiras para marcharem em Brasília.
“A marcha não tem dono, ela é das mulheres negras”, finalizou Naiara.

Caravanas serão realizadas em toda Bahia
Entre os meses de abril e maio, 10 territórios baianos receberão as caravanas rumo à Marcha das Mulheres Negras. As atividades têm o intuito de fortalecer a articulação entre os territórios e a autonomia na definição de pautas prioritárias.
As regiões que serão exploradas são: Sisal, Baixo-Sul, Portal do Sertão, Recôncavo, Salvador e Região Metropolitana, Irecê, Sul da Bahia, Sertão do São Francisco, Chapada e Oeste.
Todo o roteiro e programação das caravanas serão divulgados no perfil oficial do Comitê Impulsor da Bahia.
Reunião do Comitê Impulsionador Bahia
A próxima reunião do Comitê Impulsionador da Bahia para a Marcha acontecerá do dia 24 de fevereiro, às 19h. O encontro será virtual, através da plataforma Google Meet.
A reunião tem o objetivo de mobilizar e desenvolver estratégias coletivas para a construção das agendas rumo à Marcha 2025. As interessadas devem se inscrever para participação na reunião no link.