Nós, Líderes do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco, nos juntamos às vozes que gritam neste Março de Luta das Mulheres, e sempre, por justiça para Marielle Franco e Anderson Gomes.
Há 735 (setecentos e trinta e cinco) dias, Marielle e Anderson foram assassinados, e ainda perguntamos todos os dias: quem matou? quem mandou matar? e por que mataram?
Quando uma mulher negra, que moveu estruturas da periferia para o espaço da política, é brutalmente assassinada, o recado que nos é dado é: silêncio e obediência. Mas, sem nenhum pedido de desculpas ou licença, afirmamos que não seremos interrompidas e nossos sonhos não serão interrompidos.
O vazio da perda de Marielle Franco nos move para um lugar de luta, amor e resistência. Marielle é semente, o fato de ela ter sido covardemente assassinada nos lembra Zumbi dos Palmares, Dandara, Aqualtune, Malcolm X, Luana Barbosa, Claudia da Silva Ferreira e tantas outras pessoas pretas que foram executadas pelo estado terrorista, nos deixando a difícil missão de seguir sem elas, mas com o legado de existir e (re)existir com nossos corpos, com nossa pele preta, com nossos cabelos crespos e com nossas vidas que importam.
O corpo de Marielle foi interrompido, mas sua memória segue muito viva em cada uma de nós. Foi um ato de dor que fortaleceu o levante de mulheres negras que vem sendo construído nos últimos anos. Sementes brotaram em maiores campos e mudas passaram a ser vozes e gritos cada vez mais altos. É assim que a mantemos viva: na nossa luta!
Marielle representa muitas lutas do povo pobre e periférico. Se o Brasil tem mostrado sua incapacidade para passar sua história a limpo, permitindo assim uma instabilidade democrática, nós, mulheres negras estamos organizadas para buscar formação e nos tornarmos especialistas e protagonistas das nossas histórias, e debateremos nossas questões de saúde e qualidade de vida, educação, direitos, ciência e tecnologia, comunicação e memória, desenvolvimento econômico, autocuidado, enfrentamento ao racismo religioso e proteção das vítimas, prevenção e atenção às vítimas e afetadas pela violência racial, proteção dos direitos de comunidades quilombolas, proteção dos direitos de crianças e adolescentes e segurança pública, a partir de um olhar que garante a manutenção das nossas vidas e corpos negros.
Nós, lideranças negras brasileiras, somos sementes deixadas por Marielle e estamos unidas em muitas frentes de lutas. Estamos na linha de frente e não vamos recuar!
Marielle um dia disse: “Nunca a filosofia ubuntu, ‘eu sou porque nós somos’, fez tanto sentido pra mim”. Nós seguimos dizendo todos os dias: Marielle Presente! Marielle Semente!
Assinam esta manifestação 58 Mulheres Negras Líderes apoiadas pelo “Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco”, uma iniciativa do Baobá: Fundo para Equidade Racial, com apoio da Fundação Kellogg, Instituto Ibirapitanga, Fundação Ford e Fundação Open Society.
Andressa Ferreira
Anielle Franco
Aline Lourena
Ana Bartira da Penha Silva
Ana Cristina da Silva Caminha
Ana Lígia Rodrigues
Barbara Fraga dos Santos Aguiar
Beatriz Domingos da Silva
Brígida Rocha dos Santos
Brunna Moares
Carolina Araujo de Brito
Clara Marinho Pereira
Claudia Marques de Oliveira
Dandara Rudsan
Danubia Santos
Dina Alves
Emília Carla Costa Leite
Evânia Maria Vieira
Éthel Oliveira
Giovana Xavier
Hellen Nzinga
Ingrid Farias
Jaciara Mello
Jaqueline Fraga
Jenair Alves
Jéssica Vanessa
Jéssica Remédios
Joice Silva dos Santos
Juliana Jardel
Karen Franquini
Laiara Amorim Borges
Leandra Silva
Lorena Borges
Luciane Reis
Lucimar Sousa Silva Pinto
Luyara Franco
Keit Lima
Magna Barboza Damasceno
Marcia Monte
Mariana Gomes
Marina Ribeiro Lopes
Marinete Silva
Mayara Silva de Souza
Meduza com Z
Midiã Noelle
Monalyza Alves
Nãnan Matos
Patrícia Lima
Piedade Marques
Renata Vaz
Sarah Marques
Sibele Gabriela dos Santos
Sulamita Rosa
Taís Nascimento
Vanessa Barboza
Vitorino da Silva
Wemmia Santos
Wézya Ferreira
* O posicionamento das líderes que integram o corpo de apoiadas pelo Programa de Aceleração não configuram, necessariamente, posicionamento do Fundo Baobá para Equidade Racial e das instituições apoiadoras.