Claudia Leitte pode ser impedida de cantar no carnaval de Salvador após denúncia do Ministério Público da Bahia por racismo religioso

Ação do MP-BA questiona alteração na letra de música que substituiu referência a Iemanjá por uma cristã

Por Karla Souza

O Instituto de Defesa dos Direitos das Religiões Afro-Brasileiras (Idafro) e a yalorixá Jaciara Ribeiro acionaram o Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) contra o contrato da cantora Claudia Leitte em eventos públicos do carnaval de Salvador. A ação, motivada por uma alteração na letra da música “Caranguejo”, propõe que o governo estadual e a prefeitura não financiem performances da artista durante as festividades.

O caso começou no final de 2023, quando a cantora carioca substituiu o nome de Iemanjá pelo termo hebraico “Yeshua” em uma apresentação realizada na capital baiana. A mudança gerou reações de lideranças religiosas e entidades defensoras dos direitos das religiões afro-brasileiras, que interpretaram o gesto como um ato de intolerância religiosa.

A ação foi submetida à análise da Promotoria de Justiça Especializada no Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa, sob a responsabilidade da juíza Lívia Santana e Sant’Anna Vaz. O pedido recomenda que Claudia Leitte seja proibida de receber verbas públicas para apresentações no carnaval, fundamentando no artigo 4º da Constituição Federal e no Decreto nº 10.932, de 2022, que ratifica a Convenção Interamericana contra o Racismo.

Além do impedimento à contratação, as entidades propuseram uma indenização no valor de 10 milhões de reais, a ser destinada ao financiamento de campanhas contra o racismo religioso. 

“Esse é um assunto muito sério. Daqui do meu lugar de privilégio, o racismo é uma pauta que deve ser discutida com a devida seriedade, e não de forma superficial. Prezo muito pelo respeito, pela solidariedade e pela integridade. Não podemos negociar esses valores de jeito nenhum, nem os jogar ao tribunal da internet. É isso”, disse a cantora em coletiva de imprensa após o MP-BA abrir o inquérito.

A situação reacendeu o debate sobre a presença de manifestações de intolerância religiosa em espaços culturais e sua relação com o financiamento público. Para o Idafro, a responsabilização de figuras públicas que utilizam a cultura para propagar discriminação é um passo essencial na construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.

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