Conceição Evaristo é primeira mulher negra a receber o Prêmio Intelectual do Ano – Troféu Juca Pato

A escritora foi a vencedora pela publicação de “Canção para ninar menino grande”, obra na qual narra as contradições e complexidades da masculinidade negra e os efeitos delas sobre as mulheres negras.

A escritora foi a vencedora pela publicação de “Canção para ninar menino grande”, obra na qual narra as contradições e complexidades da masculinidade negra e os efeitos delas sobre as mulheres negras.

Por Andressa Franco

Imagem: Lucas Seixas

A escritora Conceição Evaristo se tornou a primeira mulher negra a receber o Prêmio Intelectual do Ano – Troféu Juca Pato, organizado pela União Brasileira de Escritores (UBE).

Segundo a UBE, o Juca Pato é concedido a “personalidades que, havendo publicado livro no Brasil no ano anterior, tenham se destacado, pelo conjunto da suas obras, em qualquer área do conhecimento e contribuído para o desenvolvimento e prestígio do país, na defesa dos valores democráticos e republicanos”.

Conceição foi a vencedora pela publicação de “Canção para ninar menino grande”, obra na qual narra as contradições e complexidades da masculinidade negra e os efeitos delas sobre as mulheres negras. 

Entre os finalistas que também disputavam a honraria na edição 2023, estavam nomes como Martinho da Vila, Maria Villani, Marilene Felinto e Pedro Bandeira. O anúncio foi feito no último sábado (16), mas a cerimônia de reconhecimento será em novembro, no Festival Literário de Itabira, em Minas Gerais. O evento contará com a participação da ministra da Cultura, Margareth Menezes.

O presidente da República em exercício, Geraldo Alckmin (PSB), parabenizou a intelectual. “Feliz em saber que, pela primeira vez na história, o Troféu Juca Pato, referência desde 1962 na premiação de grandes pensadores do Brasil, teve como destino este ano uma mulher negra, Conceição Evaristo, uma das escritoras mais importantes do nosso país! Já era tempo. Parabéns pelo reconhecimento”, escreveu em suas redes sociais.

O troféu Juca Pato foi criado pela União Brasileira de Escritores em 1962. Desde então, já foram premiados nomes como Jorge Amado, Érico Veríssimo, Frei Betto, Carlos Drummond de Andrade, Cora Coralina, Ailton Krenak, entre outros. Além dos ex-presidentes da República Juscelino Kubitschek e Fernando Henrique Cardoso.

Sobre Conceição Evaristo

Conceição Evaristo nasceu em Belo Horizonte, em 1946, e por grande parte da sua vida tirou seu sustento como trabalhadora doméstica. Em 1970, se mudou para o Rio de Janeiro, onde deu início à sua vida acadêmica, se tornando doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense.

A mineira é criadora do conceito “escrevivência”. Sua estreia na literatura aconteceu em 1990, por meio de publicações nos Cadernos Negros, que reúne uma série de contos e poemas. Em 2003, publicou o romance Ponciá Vicêncio. Já em 2011, lançou o volume de contos Insubmissas lágrimas de mulheres. Ela é autora ainda de títulos como Olhos D’água (2014) e Insubmissas Lágrimas de Mulheres (2011).

A escritora já ganhou as premiações: Prêmio Camélia da Liberdade (2007), Prêmio Ori (2007) e Prêmio Jabuti (2015). Em 2019, foi escolhida a personalidade literária do ano pelo Prêmio Jabuti. Protagonismo feminino, racismo, críticas sociais e valorização da cultura afro-brasileira são os principais temas abordados pela linguista e pesquisadora. 

“Para mim, a literatura também é um espaço de vingança. Não só pelo texto em si, mas para toda a minha família. Eu sempre digo que a minha literatura me persegue desde o ventre materno, quando eu e minha mãe íamos trabalhar em casa de família. Hoje, ter a oportunidade de estar em um livro que trata de escritores mineiros e ter meu nome na mesma obra de autores que foram patrões da minha mãe é uma realização”, declarou Conceição em entrevista ao podcast Mano a Mano, do rapper Mano Brown, em 15 de junho deste ano.

A intelectual comentou ainda a frequência em que é classificada como “uma das melhores escritoras negras”. Como se a raça fosse uma extensão de seu nome. “Raramente se diz uma das melhores escritoras da literatura brasileira. Esse ‘negra’ está sempre colado”, completa.

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