Revista Afirmativa se reúne com jornalista vencedora do Pulitzer, Nikole Hannah-Jones, em Salvador (BA)

O encontro também reuniu as ativistas do Instituto Odara e da APAN para um debate sobre preservação da memória da população negra e importância das mídias negras

O encontro também reuniu as ativistas do Instituto Odara e da APAN para um debate sobre preservação da memória da população negra e importância das mídias negras

Por Andressa Franco

Ativistas da Revista Afirmativa, do Instituto Odara e da Associação de Profissionais do Audiovisual Negro (APAN) se reuniram no último sábado (11) com a jornalista investigativa norte-americana Nikole Hannah-Jones, na sede do Instituto Odara, em Salvador (BA). O objetivo do encontro foi trocar experiências de trabalhos desenvolvidos pela preservação da memória da população negra na diáspora e atuação das mídias negras brasileiras.  

Nikole é jornalista do The New York Times Magazine com foco em desigualdade e injustiça racial, e vencedora do Prêmio Pulitzer pelo Projeto 1619, um podcast que revê a influência da escravidão nas instituições políticas, econômicas e sociais dos Estados Unidos. O projeto já se transformou em livro e também em série de streaming. 

A norte-americana também é professora na Howard University, avaliada entre as melhores universidades historicamente negras dos EUA.

Pela terceira vez em solo brasileiro, a jornalista conta que, desta vez, estava determinada a conhecer o “coração do Brasil negro”, tendo em vista que a capital baiana é a cidade mais negra do Brasil, país em que vive a maior comunidade de afro-descendentes do mundo fora do continente africano.

Alane Reis, editora e coordenadora executiva da Revista Afirmativa, relembrou o início da trajetória do coletivo, que nasceu em 2014 na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), a partir de um incômodo em relação à lacuna sobre as relações raciais nos fenômenos sociais narrados pelo jornalismo. 

“Em 2010, quando estávamos na universidade, não conhecemos a história da imprensa negra brasileira; 13 anos depois, os cursos de comunicação ainda não abordam a história da mídia negra brasileira, que esse ano tem oficialmente 190 anos. É interessante perceber isso como um dos aspectos do epistemicídio”, explicou Alane, em referência à criação do primeiro jornal da imprensa negra no Brasil: O Mulato ou O Homem de Côr, em 1833. Ainda que a Revolta dos Búzios, de 1798, seja considerada o marco inicial da imprensa negra no Brasil, devido ao uso da comunicação como uma de suas principais estratégias, mesmo em um período onde a imprensa era proibida pela Metrópole portuguesa. “Eu não tive acesso a essa história a partir da universidade, mas a partir do movimento social negro organizado dentro da universidade, o que nos inspirou a criar a Revista Afirmativa”, completa.

Alane destacou ainda o importante papel do debate acerca da memória para a compreensão da sociedade, e o papel do jornalismo na sua disseminação. Sendo fundamental a disputa pela democratização da comunicação nesse processo. 

Durante o encontro, Naiara Leite, coordenadora-executiva do Instituto Odara, contou sobre a importância da comunicação para a organização: “A comunicação do ponto de vista do combate ao racismo tem um papel estratégico e fundamental. Decidimos que não teríamos uma assessoria de comunicação. Mas um Programa, que daria conta de pensar o direito das mulheres negras à comunicação e o fortalecimento das organizações de mulheres negras para disputar narrativas, imaginários e sensibilizar a sociedade a partir das ferramentas de comunicação”.

A jornalista norte-americana também ouviu sobre as iniciativas da APAN, como o Lab Negras Narrativas, Apan Formações, Revista Apan, e demais ações e plataformas da Associação.

Nikole afirmou se identificar com os desafios do trabalho em comunicação, enquanto profissional negra. Além disso, apresentou a 1619 Freedom School, um programa de alfabetização pós-escolar gratuito que criou em sua cidade natal, Waterloo, no estado de Iowa. Um programa onde os alunos melhoram as habilidades de alfabetização por meio de instruções centradas na história negra americana.

“Tudo que disseram sobre a mídia branca de vocês, eu conheço muito bem. Meu trabalho também é sobre memória, contando a história de pessoas negras, mas também a história da América. Não se pode contar a história dos EUA sem a história das pessoas negras. Falar com vocês tem me demonstrado que estamos na mesma e que podemos lutar juntos.”, finalizou.

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