Coordenadora do Fórum de Catadores de Rua da Bahia sofre atentado armado em Salvador (BA)

A liderança Anamone dos Santos vinha sofrendo ameaças por seu trabalho com a categoria
Imagem: Reprodução Redes Sociais

Por Karla Souza*

Na noite de 1º de julho, Anamone dos Santos, coordenadora do Fórum de Catadoras de Rua da Bahia e referência nacional na luta por direitos dos trabalhadores da reciclagem, foi vítima de uma tentativa de homicídio nas instalações da Cata Bahia, no Subúrbio Ferroviário de Salvador (BA). O ataque ocorreu dias após ela ter registrado um boletim de ocorrência por ameaças recebidas. Homens armados cercaram o local, gritaram seu nome e atiraram diversas vezes. A liderança conseguiu escapar e encontra-se sob proteção em um endereço não divulgado.

A trajetória de Anamone está ligada à defesa dos direitos de catadores e catadoras individuais, trabalhadores frequentemente excluídos de políticas públicas e alvos de violência institucional. Seu trabalho com o Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) tem incomodado atravessadores e estruturas que lucram com a informalidade da cadeia da reciclagem. Segundo declaração do advogado Robson Dias ao Jornal Correio, “o Movimento vem dando melhores condições a esses trabalhadores, o que estaria contrariando os interesses dos atravessadores”.

A violência contra à liderança gerou reações de organizações sociais e autoridades. O Fórum Estadual Lixo e Cidadania da Bahia, composto por cooperativas, associações e entidades como o Centro de Arte e Meio Ambiente (Cama), manifestou apoio à liderança. Em nota, o grupo declarou: “A violência contra uma liderança catadora não é apenas uma tentativa de silenciamento individual, mas um ataque à organização coletiva, aos direitos conquistados e à construção de uma sociedade mais justa, solidária e ambientalmente responsável.”

A deputada estadual Olivia Santana (PCdoB) também se pronunciou, afirmando que “esse atentado é uma tentativa covarde de calar uma voz forte, que denuncia as injustiças e luta por dignidade desses trabalhadores e trabalhadoras”. A parlamentar acompanha o caso e solicitou que os órgãos de segurança e justiça garantam proteção à vítima e avancem nas investigações.

O Instituto JusEsperança ressaltou que o atentado contra Anamone precisa ser entendido no contexto da crescente vulnerabilidade enfrentada por defensores de direitos humanos no Brasil. Em nota de apoio à vítima, a entidade afirmou que “a tentativa de silenciar uma liderança é, também, uma tentativa de desarticular um movimento”. A atuação de catadores de materiais recicláveis cruza com lutas por moradia, território e reconhecimento social, o que torna suas lideranças alvos de ameaças.

Ameaças de morte (47,74%) e intimidação ou perseguição (29,9%) são os principais tipos de violações sofridas por defensores de direitos humanos, ambientalistas e comunicadores, segundo estudo do Observatório Nacional dos Direitos Humanos (ObservaDH), divulgado pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania. A análise abrange o período de 2020 a 2024 e aponta que os principais autores das ameaças são fazendeiros (40,91%), empresas (15,28%) e agentes de segurança pública (11,74%). Os dados integram o monitoramento do Programa de Proteção a Defensores de Direitos Humanos (PPDDH) e revelam o risco constante enfrentado por quem atua na promoção de direitos e justiça social no país. 

“Eu vi a morte e pensei que não ia sobreviver”, disse Anamone, em entrevista ao Jornal Correio. O caso está sendo investigado pelas autoridades locais, mas, até o momento, não houve identificação ou prisão dos responsáveis pelo ataque.

*Com informações do Correio

Compartilhar:

plugins premium WordPress