Por Patrícia Rosa
A Polícia Militar do Rio de Janeiro nomeou para o cargo de superintendente de gestão integrada da corporação o Coronel Aristheu de Góes Lopes, que foi exonerado três meses atrás do comando do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope). O afastamento ocorreu em razão da operação no Morro do Santo Amaro, que resultou na morte a tiros de Herus Guimarães Mendes, de 23 anos, durante uma festa junina realizada na comunidade, na madrugada do dia 7 de junho de 2025.
A nomeação foi publicada no Diário Oficial do Estado no último dia 5 de setembro. Fernando Guimarães, pai do jovem, expressou sua indignação ao Portal G1. “A comunidade do Santo Amaro repudia essa nomeação. Ninguém do governo nos procurou, mas uma nomeação eles fazem antes do final do inquérito.”
A Polícia Militar do Rio de Janeiro justificou que a função é administrativa e que o coronel não responde a nenhum procedimento interno na corporação, além de estar apto a desempenhar a função. “As movimentações de efetivo fazem parte da rotina da corporação e seguem critérios técnicos e estratégias definidas pelo comando.”

Reação da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos
A deputada Dani Monteiro (PSOL-RJ), presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (CDDHC-ALERJ), publicou uma nota de repúdio à nomeação do coronel. A parlamentar avaliou como inadmissível, o fato de um oficial vinculado a uma operação marcada pela violência desproporcional e pela violação de direitos fundamentais, seja alçado a um cargo de tamanha relevância na estrutura da segurança pública do estado. “Mais uma vez o governo do Rio de Janeiro sinaliza tolerância, e até cumplicidade, com práticas letais que vitimam, sobretudo, a juventude negra das favelas e periferias, perpetuando um modelo de segurança fracassado, pautado na lógica do confronto e não na preservação da vida.”
Relembre o caso
O jovem Herus Guimarães Mendes, de 24 anos, trabalhava como office boy em uma imobiliária. Naquele sábado, dia 07 de junho, a comunidade do Morro do Santo Amaro realizava uma tradicional festa junina, que foi interrompida pela ação violenta do Bope. Os disparos dos agentes atingiram Herus e deixaram cinco pessoas feridas.
Em um relato doloroso publicado em vídeo nas redes sociais durante a manifestação realizada em 8 de junho, no Catete, um dia após a operação que matou Herus, a mãe do jovem, Mônica Guimarães contou que o filho havia saído para comprar um lanche para ela quando foi atingido por disparos na região do abdômen. Segundo ela, os policiais ainda arrastaram o jovem baleado pelas escadarias do local e colocaram uma grade, impedindo o acesso e, assim, omitindo socorro imediato:
“Quando eles entraram, eles não viram as fantasias brilhando? O policial arrastou o meu filho pela escada e gritou que meu filho era vigia [do tráfico]. Botou uma grade para ninguém socorrer o meu filho.”