EDITORIAL: O dia internacional dos direitos humanos, a Filantropia no Brasil, e o que nós, povo negro, temos com isso!?

Com certeza você já ouviu falar sobre FILANTROPIA. Mas você sabe o que é? Para que serve, e como está organizada no Brasil? Hoje, 10 de dezembro, é o Dia Internacional dos Direitos Humanos - agenda prioritária da Filantropia no mundo

Por Alane Reis e Elizabeth Souza

Com certeza você já ouviu falar sobre FILANTROPIA. Mas você sabe o que é? Para que serve, e como está organizada no Brasil? Hoje, 10 de dezembro, é o Dia Internacional dos Direitos Humanos – agenda prioritária da Filantropia no mundo, e nada melhor do que esta data emblemática para refletir sobre como a filantropia atua em nosso país, e o que esse campo tem a ver com o combate ao racismo.

A real é que Filantropia é um conceito muito antigo, de origem grega, cuja etimologia significa algo como “amor à humanidade”, e com o sentido em constante transformação e disputa. Durante muito tempo, a Filantropia foi confundida com caridade, mas não é a mesma coisa.

Hoje, podemos pensar que a Filantropia é um gigantesco ecossistema financeiro de instituições, empresas, fundações, governos e organizações que atuam comprometidas com os diversos aspectos dos direitos humanos. Mas claro, que este conceito foi mudando ao longo do tempo, e de território para território. E neste sentido nós questionamos: O que é Filantropia no Brasil, este país do Sul Global, de maioria negra, fruto dos horrores coloniais e que até hoje nega a humanidade das populações negras, indígenas, mulheres e LGBTQIAP+?

Conta a história oficial colonialista brasileira que por aqui a Filantropia surgiu vinculada a supostos atos de caridade da igreja católica, considerada a pioneira no fazer filantrópico durante o período mais sombrio da nossa história – inclusive apoiada por esta instituição -,  a escravatura.

A proclamação da República, no século XIX, trouxe o panorama de formação de um Estado que se pretendia assistencialista para com as populações brancas, sobretudo italianas, trazidas em massa no início do século XX sobre a promessa de embranquecimento da população brasileira, que é e sempre foi de maioria negra.

No entanto, o “boom” da filantropia no Brasil ocorreu no período da Ditadura Militar, principalmente após os anos do regime ditatorial, quando diversas empresas, fundações, institutos, encabeçados pela elite branca brasileira ganharam forma. Rastros históricos que evidenciam o controle da branquitude no campo filantrópico desde o surgimento da iniciativa no Brasil. Mas qual a participação negra na história da filantropia brasileira? Quando as experiências coletivas da população negra organizada em prol do bem comum são consideradas exemplos de filantropia e defesa de direitos humanos?

Se filantropia é a expressão grega para dizer sobre “amor pela humanidade”, a filosofia africana Ubuntu defende que “a minha humanidade está inextricavelmente ligada à sua”, e seguindo essa máxima, buscamos preservar o legado dos que vieram antes e fortaleceram o caminho dos que permanecem presentes.

A filantropia negra é comprometida historicamente com a liberdade, segurança e justiça para com o povo negro, e sempre foi solidária aos povos indígenas – teoria materializada nas histórias dos quilombos do Brasil, sobretudo o Quilombo dos Palmares, que entre os séculos XVI e XVIII existiu por mais de duzentos anos como uma sociedade livre e solidária, em Alagoas;  as tradicionais Irmandades negras de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, do século XVII, e de Nossa Senhora da Boa Morte, do século XVIII, na Bahia; com os clubes e Associações dos Homens de Cor, em São Paulo e Brasil a fora, no final do século XIX. Sem esquecer da Sociedade Protetora dos Desvalidos (SPD), primeira associação civil negra do Brasil, que surgiu em 1832 e permanece em atividade até hoje. Dos vários Clubes de Mães, mulheres negras organizadas em prol de suas comunidades.

E para refletir melhor sobre essa história, que neste emblemático 10 de Dezembro, convidamos você para acompanhar a série “Filantropia no Brasil, e o que nós, povo negro, temos com isso!?”, organizada em três reportagens que serão publicadas ao longo desta semana, com reflexões sobre: a história da filantropia no Brasil; a Filantropia Negra sempre praticada como estratégia de sobrevivência; os controles políticos e econômicos no ecossistema da Filantropia; os desafios para que os recursos cheguem nas mãos de quem mais precisa e atua em prol do bem coletivo; como se dá a filantropia comprometida com o combate ao racismo? Entre outros.

Para nos ajudar nestas reflexões, conversamos com um time de peso: Rosana Fernandes, assessora de Projetos e Formação da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE); Lígia Margarida de Jesus, presidente da assembleia geral da Sociedade Protetora dos Desvalidos (SPD); Giovanni Harvey, diretor executivo do Fundo Baobá para Equidade Racial; Naiara Leite, coordenadora executiva do Odara – Instituto da Mulher Negra; Lucas Campos, doutorando em História Social pelo Programa de Pós-Graduação em História da UFBA; a antropóloga inglesa Jessica Sklair; Tássia Mendonça, antropóloga e gestora de portfólio de igualdade racial no Instituto Ibirapitanga; Patrícia Kunrath, coordenadora de conhecimento no GIFE; além de ativistas do Inegra – Instituto da Mulher Negra do Ceará e da Auto-organização Rejane Maria (SE). 

Então você já sabe, acompanha nossas redes ao longo da semana, divulga esse conteúdo para as pessoas que você acha que pode se interessar, e vamos juntes, entender, democratizar e acessar a Filantropia brasileira.

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