Por Andressa Franco
O Observatório da Branquitude publicou no último dia 2 de julho o boletim “Supremacia branca: a branquitude organizada”, que se propõe a responder quais os consensos e discordâncias entre os conceitos de “branquitude” e “supremacia branca”, tendo em vista o conceito de branquitude como um lugar estabelecido de acúmulo de privilégios e uma posição social estabelecida.
Resgatando diversos estudos sobre o tema, a publicação mostra como a supremacia branca é identificada como a forma pela qual a branquitude se organiza para sustentar suas vantagens. De um lado, grupos supremacistas celebram abertamente suas posições privilegiadas, frequentemente manifestando apoio a ideologias de extrema-direita, como o nazismo. Em contrapartida, a branquitude se comporta de maneira mais discreta, rateando os benefícios sem explicitamente reconhecer os privilégios que possui, contribuindo para a manutenção das desigualdades raciais.
“Enquanto a branquitude se acomoda no “invisível”, a supremacia branca se projeta ao visível. Mills (2003) entende a supremacia branca como uma manifestação política e organizada da branquitude, ao conectar a supremacia branca com a projeção de leis Jim Crow nos Estados Unidos e políticas de segregação, a exemplo do Apartheid na África do Sul”, explica um trecho do boletim.
Branco como ser universal
Quem também chama atenção para essa atuação discreta da branquitude, é a psicóloga Cida Bento, em seu livro O Pacto da Branquitude: “É evidente que os brancos não promovem reuniões secretas às cinco da manhã para definir como vão manter seus privilégios e excluir os negros. Mas é como se assim fosse: as formas de exclusão e de manutenção de privilégios nos mais diferentes tipos de instituições são similares e sistematicamente negadas ou silenciadas. Esse pacto da branquitude possui um componente narcísico, de autopreservação, como se o ‘diferente’ ameaçasse o ‘normal’, o ‘universal’”.
A ideia de universalidade mencionada por Bento, também aparece no estudo, que ressalta como a posição da branquitude como identidade normativa continua a desumanizar outros grupos raciais.
Em entrevista para a Afirmativa em 2023, Liv Sovik, uma das pesquisadoras cujo trabalho é utilizado como referência no boletim, observa que essa “auto-isenção” da população branca no debate sobre o racismo é histórica. “Antes, o pretexto era de serem mestiços em algum lugar do passado ou do mundo. Cada época tem sua fuga, que tem sua respectiva resposta.”
Vantagens históricas e legitimadas
A pesquisa indica que as relações sociais no Brasil são estruturadas de modo a perpetuar as vantagens associadas à branquitude. Vantagens constituídas e legitimadas historicamente “por leis e instituições econômicas que possibilitaram aquisições de propriedade através de regimes escravocratas e a manutenção das riquezas adquiridas.”
O boletim relembra ainda as teorias da democracia racial, e as tentativas de branqueamento populacional, como as políticas estatais no pós-abolição, que trouxeram um largo contingente de brancos europeus, sobretudo italianos, para a região Sudeste.
Os pesquisadores do Observatório da Branquitude concluem que é fundamental que os brancos reconheçam seus privilégios para que haja mudanças sociais efetivas. Isso porque as vantagens inerentes ao grupo branco automaticamente os colocam em posições de poder, o que vai na direção contrária a uma sociedade mais justa e igualitária.Confira a publicação completa aqui.