Feminicidas Thiago Mayson e Francisco das Chagas têm julgamento marcado para esta quinta-feira em Teresina (PI)

Thiago Mayson é réu por estuprar e assassinar a estudante de jornalismo Janaína Bezerra. O ex-vereador Francisco das Chagas é acusado pelos crimes de feminicídio e ocultação de cadáver de Renata Pereira

Thiago Mayson é réu por estuprar e assassinar a estudante de jornalismo Janaína Bezerra. O ex-vereador Francisco das Chagas é acusado pelos crimes de feminicídio e ocultação de cadáver de Renata Pereira

Por Andressa Franco e Patrícia Rosa

Thiago Mayson da Silva Barbosa e Francisco das Chagas Ferreira serão julgados nesta quinta-feira (17), pelos bárbaros crimes de feminicídio contra Janaína Bezerra, de 22 anos, e Renata Pereira da Costa, de 29 anos.

Thiago Mayson é réu por estuprar e assassinar a estudante de jornalismo Janaína Bezerra, no dia 27 de janeiro deste ano. O crime aconteceu dentro de uma sala de estudo do curso de matemática, durante uma festa de calourada no campus de Teresina, da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Thiago é ex-mestrando do curso de matemática na instituição, e foi pego em flagrante por um segurança na manhã seguinte do crime, com a vítima desacordada nos braços. O laudo do Instituto Médico Legal constatou que a estudante foi estuprada e morreu por ter tido o pescoço quebrado.

O acusado pela morte de Janaína segue preso na Cadeia Pública de Altos, e seu julgamento está agendado para às 08h30 desta quinta-feira.

Janaina Bezerra era estudante de jornalismo, e foi estuprada e morta por Thiago Mayson da Silva Barbosa – Imagem: Reprodução Redes Sociais

O brutal crime de feminicídio contra Renata Pereira aconteceu em dezembro de 2020. O ex-vereador Francisco das Chagas, popularmente conhecido como Chaguinha, é acusado pelos crimes de feminicídio e ocultação de cadáver. A vítima foi morta com golpes na cabeça, que causaram traumatismo crânio encefálico. Chaguinha é ex-companheiro de Renata, com quem tinha um filho, e por esse motivo a chamou para fazer compras na cidade de Floriano (PI), como forma de atraí-la.

“Ele pediu para que ela deixasse o filho na casa da nossa tia. Ela só me ligou na manhã seguinte para comunicar que a Renata tinha saído e não tinha voltado. Ficamos desesperadas porque nunca acreditamos nele. Ele sempre a ameaçou, violentou, chegou a agredir enquanto estavam casados”, relata Andréa Pereira, de 26 anos, irmã da vítima.

O corpo da jovem foi localizado no dia 24 de janeiro de 2021, em um matagal na rodovia PI 140, que liga as cidades de Floriano a Itaueira.

A prisão temporária do então suspeito foi decretada dois meses após a localização do corpo, no dia 24 de março de 2021, no sítio em Nazaré (PI). Renata era trabalhadora rural e deixou dois filhos, uma adolescente de 14 anos, e um menino de sete anos. 

  Renata Pereira foi morta com golpes na cabeça pelo ex-vereador Francisco das Chagas, popularmente conhecido como Chaguinha – Imagem: Reprodução/Redes Sociais

A dor das famílias

Diariamente as famílias tentam superar a dor da ausência e clamam por justiça. Andréa lembra que Renata era muito carinhosa e apegada à família, e conta que o sobrinho ainda não entende exatamente o que aconteceu. “Ele sente muito a falta da mãe, acorda todos os dias perguntando por ela. Ele não entende o que aconteceu, a gravidade da situação”, lamenta a irmã de Renata, que trabalha como analista de RH. Já a filha mais velha, foi diagnosticada com depressão logo após o crime. Andréa conta que a adolescente chegou a tentar tirar a própria vida e ficou internada numa clínica durante três meses.

Para ela, é doloroso processar que a irmã foi vítima de um crime de feminicídio. “É doloroso aceitar uma coisa dessas porque quando a pessoa tem uma morte natural, a gente acaba se confortando com o tempo mesmo que sinta falta. Mas no caso da Renata não tem como se consolar. É um sentimento que ressurge todos os dias.”

A mãe de Janaína Bezerra, Dona Maria do Socorro Nunes, de 53 anos, falou com o Jornal Piauí Hoje sobre a dor da perda da filha. “Eu só era feliz com minha filha e ele tirou um pedaço de mim. Então não sou feliz, minha família não está completa, ele destruiu. Eu peço justiça, somente justiça”, desabafa a mãe da jovem negra, que foi a primeira da família a ingressar na universidade. A estudante chegou a vender bolos de pote na faculdade para comprar um computador para estudar.

A última publicação da jovem nas redes sociais foi uma poesia, no último dia 2 de janeiro, onde ela conta sobre a expectativa pelo futuro:

“Anseio o que o futuro tem pra mim. Mais ainda o que penso ter no presente instante. No mistério das dobras em que o destino dá ou arranca fazendo parecer que foi meu algum dia do passado aponto pela hora que ele me devore por um enigma mal decifrado no momento. Me vivo e vivendo me viro. Às vezes me retiro na pausa, me celebro e vejo e vou com os pulmões arfando ao encontro do que me espera”

A luta na Justiça

Os dois casos foram acompanhados desde o início pela Frente Popular de Mulheres Contra o Feminicídio do Piauí. Maria Madalena Nunes integra a organização, e explica que embora a morosidade na Justiça seja o padrão do andamento desses casos, o de Janaína está “dentro de um prazo razoável, considerando outros casos que ainda não foram julgados e que os feminicidas seguem soltos”. 

Já no caso da Renata, a ativista critica a espera de dois anos pelo julgamento. “Foram crimes tão bárbaros, cruéis, misóginos. A Renata foi assassinada a muitas pauladas, o corpo dela foi jogado no mato, no lixão, demorou dois ou três meses para encontrar. Foi muita luta e cobrança das autoridades.”

“Foram três meses de extrema angústia sem saber se ela tinha morrido, se estava refém. Muitas coisas passaram pela nossa cabeça. Renata foi encontrada num estado deplorável, nem direito a um enterro digno ela teve”, acrescenta Andréa. A irmã da vítima conta que têm sido anos muito difíceis no amparo judicial, já que a família não tem condições financeiras para contratar um advogado. “Não temos advogado na causa, o caso foi acatado pelo Ministério Público, e temos um promotor, que tem dado todo suporte”. A analista de RH ressalta ainda o trabalho da Frente Popular na busca por repercutir o caso nos diversos veículos de mídia.

Para Madalena, a lentidão reflete a falta de prioridade que a agenda do combate ao feminicídio têm no poder público e para o judiciário. “O poder público disse que ia assistir a família da Janaína, que é vulnerável economicamente, como a maioria das vítimas de feminicídio. A família de Janaína mora na periferia, a de Renata na zona rural. Onde o Estado só chega com violência.” No entanto, afirma, nem a assistência psicológica está sendo mantida para a família. Além disso, o processo corre em segredo de justiça.

“O corpo da Janaína ficou espalhado depois de morta, todo mundo viu. Mas o feminicida é pra ficar escondido. A maioria das matérias diz o nome da vítima e não o do feminicida”, critica. 

Imagem: Reprodução Redes Sociais
Crimes de violência contra a mulher tiveram alta em 2022

As histórias de Renata e Janaína não são casos isolados. Pelo contrário, se somam a um índice crescente desse tipo de crime no Brasil. O Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado no dia 20 de julho, revelou uma alta nos crimes de violência contra a mulher em 2022, em comparação com 2021.

Além do aumento de casos de estupro, o feminicídio também teve aumento de registros. No ano passado, foram 1.437 casos registrados no Brasil, em comparação com 2021 – quando foram 1.347 casos, um aumento de 6,1%.

“Passamos por um período de autorização da nossa morte, dado pelo então presidente da república. O feminicídio não atinge só a mulher vítima, é um crime de ódio construído dentro da sociedade. Então toda a sociedade precisa se mobilizar, educar, cobrar políticas públicas. O Estado tem que garantir isso”, pondera Madalena. 

Com o julgamento agendado, as expectativas de Andréa é que a justiça seja feita. “Ele sempre falava para Renata que ela era sozinha, não tinha ninguém, mas nós estamos aqui e vamos lutar por justiça até os últimos dias das nossas vidas.”

Madalena lembra da importância de visibilizar e pressionar para a cobrança dos julgamentos de outros casos de violência. Como o caso de Camilla Abreu, assassinada em 2017 pelo ex-namorado, o ex-policial militar Allisson Wattson, que foi condenado a 17 anos de reclusão, mas colocado em regime semiaberto em dezembro de 2022. Alisson foi preso no último dia 27 de julho por estupro de vulnerável, em Teresina, acusado de estuprar uma criança de sete anos.

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