Governo da Bahia adquire 200 fuzis de empresa israelense denunciada por utilizar povo palestino como “cobaia”

Em nota, o Comitê Baiano de Solidariedade ao Povo Palestino defendeu que a aquisição contribui para o genocídio contra a juventude preta das periferias baianas e patrocina o genocídio do povo palestino.

Da Redação

O que o genocídio cometido por Israel contra o povo palestino na Faixa de Gaza tem a ver com o genocídio perpetrado pela polícia baiana nas periferias do estado? A triste conexão vai além de uma mera coincidência. O governo da Bahia adquiriu 200 fuzis israelenses para uso da Polícia Civil da Bahia (PCBA), no dia 14 de novembro, e comprou mais equipamentos do país. 

O comandante-geral da Polícia Militar da Bahia, Paulo Coutinho, informou em entrevista no último dia 25 de novembro, a previsão de entrega de 700 fuzis, 200 viaturas e coletes israelenses, tendo em vista o lançamento da Operação Verão, que afirma ter entre seus propósitos a “proteção de turistas que visitam a capital baiana”.

A primeira aquisição custou ao estado pouco mais de R$ 1,8 milhão, segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA). Tratam-se de armas de 7,62 x 51 mm, consideradas de alto calibre.  O contrato do negócio feito com a Israel Weapon Indutries Ltd (IWI) foi publicado no Diário Oficial da Bahia, e tem prazo de vigência até 30 de junho de 2025. A empresa israelense é representada no Brasil pela M1-Consultoria e Tecnologia Ltda. 

Vale lembrar que, de acordo com dados da Rede de Observatórios da Segurança, a polícia da Bahia é a mais letal do país. Em 2023 foram 1.702 vítimas – único estado entre os monitorados a ultrapassar a marca de 1 mil casos. Um assasinato cometido pela polícia a cada 07 horas. O relatório aponta que as forças de segurança da Bahia são responsáveis por 47,5% das mortes de pessoas negras em ações policiais nos nove estados analisados. 

Em nota, o Comitê Baiano de Solidariedade ao Povo Palestino repudiou a decisão, e defendeu que a aquisição representa um duplo financiamento da violência. “Contribui para o genocídio contra a juventude preta das periferias baianas, que serão as principais vítimas dessas armas, e patrocina o genocídio do povo palestino ao financiar uma empresa ligada ao regime israelense.”

O professor da Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia, Samuel Vida, também utilizou de suas redes sociais para se manifestar contra a aquisição.  

“Numa única tacada, o genial consórcio partidário criminoso ao qual chamam de governo baiano, financia o genocídio palestino e incrementa a matança de pessoas negras na Bahia”, escreveu o coordenador do Afro Gabinete de Articulação Institucional e Jurídica – AGANJU, e do Programa Direito e Relações Raciais – PDRR-UFBA.

IWI já realizou outros negócios no Brasil

Não é a primeira vez que a IWI faz negócios no Brasil. Em 2022, o governo do estado de São Paulo assinou com a empresa israelense um contrato de mais de R$ 8,6 milhões, para receber 414 fuzis 5.56mm.

Em 2022, também era previsto que o governo do estado de São Paulo recebesse 200 carabinas para sua Polícia Civil, de um contrato com a IWI. Na época, ativistas de movimentos sociais e de palestinos, criticaram a relação comercial, defendendo que o acordo demonstrava cumplicidade com as violações de direitos humanos cometidas contra o povo palestino que vive em Israel. Isso antes da grande repercussão do tema, a partir da guerra Israel-Hamas, em outubro de 2023.

O movimento BDS (Boicote, Desinvestimentos e Sanções) chegou a publicar uma nota, onde afirma que a compra das armas e metralhadoras da empresa IWI “pelos governos do mundo, como o de Doria, sustenta a ocupação e apartheid israelenses, ao mesmo tempo em que proporciona a violação de direitos humanos fundamentais no Brasil.”

A nota alerta ainda que as armas da empresa são usadas pelas Forças de Ocupação de Israel (IDF) contra o povo palestino, que “são hoje as ‘cobaias’ ao que a IWI orgulhosamente apresenta em seu site como ‘testes em campo’ – em estreita colaboração com as IDF”, completa.

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