Jovem negro assassinado pela polícia, em São Félix – Ba, gera protestos e revolta nos últimos dois dias na cidade

Davi Pereira Santos de Oliveira, jovem negro de 22 anos que trabalhava como barbeiro, foi morto na noite de sábado para domingo (6), em São Félix, no Recôncavo Baiano. Testemunhas afirmam que Davi foi morto pela polícia quando estava voltando do trabalho a caminho de casa com um amigo em uma moto.

Segundo a PM, Davi Pereira Santos, 22 anos, teria atirado contra os agentes. Diversas testemunhas negam essa versão

Por Tallita Lopes

Davi Pereira Santos de Oliveira, jovem negro de 22 anos que trabalhava como barbeiro, foi morto na noite de sábado para domingo (6), em São Félix, no Recôncavo Baiano. Testemunhas afirmam que Davi foi morto pela polícia quando estava voltando do trabalho a caminho de casa com um amigo em uma moto.

A Polícia Militar (PM) alegou por meio de nota, publicada no site do G1, que a vítima atirou contra os policiais, mas diversas testemunhas afirmam que tudo que Davi tinha na mão era uma máquina de cortar cabelo, instrumento de seu ofício.

Familiares e amigos de Davi relatam que o jovem tinha o seu trabalho reconhecido pelas cidades circunvizinhas. “Davi começou a cortar cabelo cedo e todo mundo conhecia, vinha gente de Cachoeira, Muritiba, Mangabeira e até de Cruz das Almas cortar cabelo com ele. Ele era de boa, e isso que revoltou a população” disse Felipe Rodrigues, amigo de Davi.

Durante a manhã de domingo os moradores da cidade de São Félix, em especial os residentes do Alto do Hospital Santa Casa de São Félix, realizaram uma manifestação pedindo justiça por Davi e por todos os outros jovens negros da região que tiveram suas vidas ceifadas pela polícia. Estavam também presentes no protesto os familiares e amigos de Davi, que se juntaram a comunidade em busca de respostas e justiça. Durante o ato, houve muita indignação sobre as ações policiais ocorridas na cidade, moradores incendiaram pneus na ponte Dom Pedro II e em um trecho do bairro 135, onde o jovem morava.

Na manhã desta segunda feira (7) houveram mais manifestação, os moderadores fecharam a ponte Dom Pedro II e seguiram em protesto pela praça José Ramos e foram para o local onde Davi trabalhava, sob muita emoção várias pessoas pediam justiça.

“Nunca tinha visto a cidade tão revoltada como na manhã da manifestação” destacou Anastácia Flora, fotógrafa que registrou o ato e moradora da cidade.

O Brasil é o país que mais mata jovens negros no mundo, e Davi Oliveira foi mais uma vítima do genocídio da população negra, que entre as suas diversas facetas, ostenta a triste marca de um jovem negro assassinado a cada 23 minutos no país. Segundo o Atlas da Violência 2020, a taxa de assassinatos de negros no país aumentou 11,5% em relação a 2018.

Na Bahia, jovens negros morrem cinco vezes mais que a jovens brancos, segundo o relatório a Cor da Violência na Bahia, produzido pela Rede de Observatório da Segurança. O motivo dessa desigualdade racial na letalidade juvenil é o racismo estrutural que coloca a nós, população negra, numa posição de vulnerabilidade perante as abordagens policiais.

Nesse momento de dor, Felipe Rodrigues, amigo de Davi, disse que está sentindo um misto de sofrimento, tristeza e indignação. “Vai continuar acontecendo isso se a população não fizer alguma coisa, não começar a botar a cara vai continuar isso aí, os policiais matando gente inocente, jovens negros trabalhadores daqui da cidade por nada, confundindo, vai continuar assim se não fizermos nada, vai ficar por isso mesmo” desabafou Felipe.

A 27ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM), localizada em Cruz das Almas, relatou por meio de nota ao G1 que faziam rondas em São Félix, quando dois homens em uma moto atiraram em direção a eles, a guarnição teria revidado aos tiros. De acordo com os PMs, Davi foi socorrido mas não resistiu. A guarnição informou também, segundo informações do G1, que após efetuarem os disparos que matou Davi, foram apreendidos um revólver, dois tabletes de maconha, sete trouxinhas de maconha, e 153 pinos vazios para cocaína em uma mochila. Todas as testemunhas e a família negam qualquer adesão do jovem a atividades ilícitas. O caso foi registrado na delegacia de Cruz das Almas e continua sendo investigado.

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