Jovem quilombola desaparece após encontrar ex-companheiro, em Cachoeira (BA)

Tainara dos Santos havia solicitado uma medida protetiva contra George Anderson Santos da Silva em agosto

Por Andressa Franco*

Uma jovem da Comunidade Quilombola Acutinga Motecho, em Cachoeira (BA), Tainara dos Santos, está desaparecida desde a última quarta-feira (9). De acordo com relatos da família, Tainara saiu da comunidade de ônibus por volta de 5h45 da manhã, chegando em Cachoeira às 7h. Conhecidos a viram acompanhada por alguns homens em uma lan house na cidade, e pouco depois seu irmão, que estava nas imediações, também a viu em um banco na praça, acompanhada do ex-companheiro, George Anderson Santos da Silva, e mais três homens por perto.

O irmão chegou a ligar tanto para Tainara, quanto para George, para saber se conheciam aqueles homens, mas eles negaram.

A jovem de 27 anos teve um relacionamento com George, conhecido como Dandan, durante quase seis anos, mas estavam separados há cerca de quatro meses. Em agosto, Tainara solicitou uma medida protetiva contra ele, mas pediu a revogação no Ministério Público no dia 22 de setembro. Na denúncia, ela havia registrado ameaças com uso de arma de fogo, e agressões como soco, chute e tapas.

“Ele era violento com ela, ela mesma falava que ele a agredia e ameaçava”, afirma Itamara dos Santos, irmã da vítima.

Eles têm uma filha de dois anos e três meses, que três semanas antes do desaparecimento foi levada por George. Desde então os familiares de Tainara não têm notícias sobre o estado da criança.

A advogada Maria das Graças, que conhece Tainara e tem acompanhado o caso, afirmou que não há registro de ação de processo legal sobre a guarda da criança até o momento, já que o processo requer comunicação com o Ministério Público, o que não aconteceu.

“Não foi uma ação judicial, foi extrajudicial, pelo Conselho Tutelar. A família está chegando à conclusão de que ela foi coagida a dar a filha, porque ela estava amamentando. Antes de levar a menina, ela me ligou desesperada, chorando e dizendo: ‘doutora, ele vai tomar minha filha’”, lembra a advogada quilombola da região, Maria das Graças, conhecida como Maria de Totó. Tainara também é mãe de uma menina de 11 anos, que cria sozinha, fruto de outro relacionamento.

Itamara conta que na quarta-feira as duas estiveram em contato por meio de mensagens até por volta de meio dia, depois disso, não houve mais resposta. “Tainara não era disso. Ela poderia sair de manhã e voltar à noite, mas sempre mantinha a gente informada.”

A família procurou George para saber do paradeiro da jovem. Ele confirmou que esteve com ela, e que a deixou em um posto de gasolina próximo ao município de Santo Amaro, em um local conhecido como quilômetro 25, que fica nas proximidades de algumas comunidades quilombolas. Mas depois disso, segundo Itamara, ele deu pelo menos mais duas versões sobre em que local a havia deixado.

“Mesmo se Tainara parasse no [quilômetro] 25, tem várias pessoas conhecidas, ninguém a viu. Ela era uma pessoa comunicativa, alegre, tem um bar próximo que é tudo parente aqui, e ninguém a viu.”, acrescenta a irmã, que já ouviu relatos de que George tinha pessoas na comunidade, que sabiam de todos os passos de Tainara.

No dia seguinte, quinta-feira (10), a família começou a procurar pela jovem na região, e divulgar o caso nas redes sociais. Na sexta-feira (11), foram à delegacia para registrar o desaparecimento. “São dias de angústia, a gente não sabe o que fazer mais, não tem nenhuma pista.”

Itamara também conta que os proprietários da lan house perceberam que Tainara estava tensa e cabisbaixa. O mesmo foi ouvido por quem a viu no Conselho Tutelar semanas antes.

Ela estava no local acompanhada por George para, de acordo com Maria das Graças, organizar os documentos de “doação de bens amigável” para, devido à separação, fazer a partilha dos bens no cartório de Cachoeira.

“Ele disse para o rapaz que estavam se separando e que haveria uma partilha de bens, que ela iria passar uma casa para ele. Casa que nem era dela, mas de um familiar que já morreu. Quando o documento foi finalizado, eles foram reconhecer a firma. Como é que transfere um bem, que nem é dela, no mesmo dia que ela sumiu?”, questiona Maria das Graças.

A advogada descobriu ainda que outra mulher havia solicitado uma medida protetiva contra George, em 2019, e também retirou a queixa.

O caso está sendo investigado pela Delegacia Territorial de Cachoeira.

*com contribuições de Patrícia Rosa.

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