Léa Garcia: “A Lei Emergencial da Cultura não é uma doação, é um direito”

No meio da pandemia que assola o mundo, a atriz e roteirista Léa Garcia não perde a elegância e firmeza acumulada ao longo dos 87 anos.

Por Pedro A. Caribé 

No meio da pandemia que assola o mundo, a atriz e roteirista Léa Garcia não perde a elegância e firmeza acumulada ao longo dos 87 anos. Nesta segunda-feira, dia 25 de maio, ela declarou que a aprovação no Congresso Nacional do Projeto de Lei 1075/2020, mais conhecido como Lei Emergencial da Cultural “não é uma doação, é um direito”.

Diva do panteão do cinema negro, e brasileiro, Léa enxerga no PL uma possibilidade das leis da cultura serem compreendidas sob um caráter público para além de normas que restringem o acesso da população aos recursos, e diz esperar o bom senso em Brasília: “Quero confiar nas pessoas que são responsáveis pela votação e aprovação”

O PL prevê renda mensal aos trabalhadores e espaços do setor cultural durante o Estado de Emergência em Saúde, com acesso aos recursos do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) e do Fundo Nacional da Cultura (FNC).

O depoimento fez parte do Diálogos da Associação dos Profissionais do Audiovisual Negro (APAN), conduzia pelo crítico Juliano Gomes, e a professora Tatiana Carvalho da Costa. A Associação, por sua vez, revolveu se adiantar e também criou um fundo próprio emergencial para apoiar os seus profissionais.

Atriz

Nesse momento de indecisão sobre o futuro, Léa rememorou a carreira, e a necessidade de manter o crescimento de produções controladas por pessoas negras. Filhas do Vento (2005), de Joel Zito Araújo, como uma virada na sua trajetória, pois foi o primeiro set a que trabalhou onde pessoas negras predominavam no elenco e em postos de direção da produção. Já o set do longa Um Dia com Jerusa (2019), de Viviane Ferreira, ela considera o ápice, pois o predomínio negro também era feminino: ”Preencheu todas as minhas aspirações e sonhos”.

No diálogo, os debatedores abordaram a capacidade de Léa construir personagens que nos seus gestos e olhares questionam os papéis a que foram colocados nos roteiros, a exemplo de Rosa, em Escrava Isaura, novela que a tornou mais conhecida em 1976: “No camarim diziam que ficava lendo livro, ou de olhos fechados, mas a mensagem que queria passar era que estava trabalhando, gosto de ganhar meu dinheiro, mas a revolução para mim era tão grande que deixava transparecer no meu olhar”

Roteirista

Léa lembrou que antes de ser artista desejava ser escritora, mas foi encorajada por Abdias do Nascimento a entrar nos palcos, e, de forma política: “Ele é a pessoa que mais levou essa problemática, de forma intensa, verdadeira, sem subterfúgios”. Porém, o sonho de escrever voltou aos seus planos, e ela está em fase de conclusão do roteiro de um longa metragem, Aconteceu no Rio em Janeiro, baseado em crônicas da Cidinha da Silva, no conto de Cuti, O batizado, e outro conto de Muniz de Sodré, Vovó veio para o jantar. O filme, dessa vez, foi encorajado pelo amigo Joel Zito que o indagou onde estava guardado escritora negra dentro dela.

A sua preocupação com os roteiros é antiga, por vezes ela teve como modificar os textos como em uma novela da TV Globo a que informação sobre o Quilombo dos Palmares estava equivocada. No histórico Seminário da Sociedade de Estudos da Cultura Negra no Brasil (SECNEB), editado e publicado pela revista Filme e Cultura da Embrafilme em 1982, ela deixou um depoimento icônico sobre a questão:

“O trabalho do ator está condicionado à uma especificação do roteiro. Ele não é escolhido pelo seu valor, mas pelo fato de ser negro e atender algum requisito que pede isso. Isso restringe o seu trabalho, não há possibilidade de continuidade. O ator negro está sempre estreando. O cinema brasileiro, com raríssimas exceções, oferece à mulher negra apenas papéis onde interpreta um objeto sexual ou empregada doméstica…”

Assista o Diálogos da APAN completo na página do Facebook

Imagem de Destaque: Léa Garcia em Um dia com Jerusa 

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