Líder quilombola de 69 anos é assassinado no Maranhão

A suspeita é que o crime tenha sido motivado por disputa de território. Entre janeiro de 2020 e maio de 2024, 12 lideranças quilombolas foram assassinadas no estado

Por Karla Souza

Raimundo Bertor, de 69 anos, liderança quilombola e ex-presidente do Quilombo Santa Cruz, no município de Capinzal do Norte (MA), foi assassinado no último dia 27 de maio. O crime, efetuado a golpes de facão, gerou indignação. A Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) emitiu uma nota de repúdio.

De acordo com a CONAQ, o suspeito identificado como “Neto Mago” foi preso provisoriamente após buscar atendimento no Hospital Municipal em Lima Campos. Informações da Polícia Militar indicam que o acusado fez uma emboscada, travou uma luta corporal com a vítima e a assassinou. Durante o confronto, o suspeito ficou ferido e foi atendido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU).

Raimundo Bertor, de 69 anos, era uma liderança ativa na proteção do território quilombola, combatendo loteamentos ilegais e invasões. A comunidade relatou que o autor do crime havia comprado ilegalmente um lote no território, sendo mantido fora do quilombo por um ano devido à mobilização comunitária. O acusado prometeu vingança pública contra Raimundo e sua família.

O Quilombo Santa Cruz, certificado pela Fundação Cultural Palmares em 2021, possui um processo de titulação aberto no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) desde 2013. A morosidade na regularização fundiária tem gerado conflitos pela posse da terra, contribuindo para a violência contra as lideranças quilombolas. Em 2013, denúncias ao Ministério Público Federal no Maranhão sobre vendas irregulares de lotes resultaram em recomendações ao INCRA, que não foram efetivamente implementadas.

Em nota de pesar, a Fundação Palmares ressaltou a luta de Raimundo. “Ele atuava na proteção e defesa da comunidade, contra loteamentos ilegais. Que os corações enlutados sejam confortados neste momento de profunda indignação e tristeza.”

Nos últimos quatros anos, 12 lideranças quilombolas foram assassinadas no Maranhão. Além de Raimundo, também tiveram a vida interrompida Wanderson de Jesus Fernandes; Juscelino Fernandes Dias; José do Carmo Corrêa Júnior; Maria José Rodrigues; João de Deus Moreira; Antônio Gonçalves Diniz; José Francisco de Souza Araújo; José Francisco Lopes Rodrigues; Edvaldo Pereira Rocha; Moacir de Jesus dos Santos Corrêa; e José Alberto Moreno Mendes.

A Conaq destaca a necessidade imprescindível de ações governamentais a nível nacional e estadual para combater a violência e genocídio contra quilombolas.

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