Mãe Bernadete estava no programa de proteção à testemunha, mas policiais iam ao local apenas por 20 ou 30 minutos diariamente

Assassinada brutalmente, a líder quilombola e religiosa denunciou que sofria ameaças e lembrou do seu filho executado, em 2017, Binho Quilombola

Assassinada brutalmente, a líder quilombola e religiosa denunciou que sofria ameaças e lembrou do seu filho executado, em 2017, Binho Quilombola

Por Daiane Oliveira

Imagem: Reprodução Redes Sociais

Há menos de 30 dias, em 27 de julho, Mãe Bernadete, executada em casa na última quinta-feira (17) por homens armados, esteve em um encontro com a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber, onde relatou as ameaças sofridas e impunidade pela morte de seu filho. O evento ocorreu na comunidade Quingoma, em Lauro de Freitas, na Bahia.

Em entrevista à TV Brasil, o filho da mãe Bernadete, Jurandir Wellington Pacífico, informou que ela era ameaçada de morte desde 2016. Mãe Bernadete estava no programa de proteção à testemunha, por isso haviam câmeras em volta da casa, só que os agentes da polícia iam ao local apenas por 20 ou 30 minutos por dia, segundo Jurandir. “Os meliantes sabiam os horários que eles [policiais] iam e atacaram. Tanto que na hora que executou minha mãe, cadê a proteção? A única coisa que ficou foram as câmeras que gravou”, desabafou o filho da vítima.

Ao ser questionado sobre o que poderia ter motivado o crime, Jurandir disse: “Especulação imobiliária, grilagem de terra, política, grandes empreendimentos, tudo isso aí”, disse Jurandir.

Pedido de socorro a ministra do STF

Em um vídeo que circula nas redes sociais é possível ouvir a líder quilombola denunciando a violência contra a comunidade e cobrando resolução da morte de seu filho, Flavio Gabriel Pacífico dos Santos, conhecido como ‘Binho do Quilombo’, também executado em Simões Filho, na Bahia.

Em nota, nesta sexta-feira (18), a ministra do STF, Rosa Weber, disse ser estarrecedor que os quilombolas ainda vivam em situação de extrema vulnerabilidade em suas terras.

“Mãe Bernadete, que me falou pessoalmente sobre a violência a que os quilombolas estão expostos e revelou a dor de perder seu filho com 14 tiros dentro da comunidade, foi morta em circunstâncias ainda inexplicadas. É absolutamente estarrecedor que os quilombolas, cujos antepassados lutaram com todas as forças e perderam as vidas para fugir da escravidão, ainda hoje vivam em situação de extrema vulnerabilidade em suas terras”, disse Weber, em nota. 

Através das redes sociais, o presidente da República, Lula (PT), lamentou o falecimento e informou que  o governo federal, por meio dos ministérios da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos e Cidadania, representantes estão acompanhando a investigação.

“Com pesar e preocupação soube do assassinato de Mãe Bernadete, liderança quilombola assassinada a tiros em Salvador. Bernadete Pacífico foi secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial na cidade de Simões Filho e cobrava justiça pelo assassinato do seu filho, também um líder quilombola. Meus sentimentos aos familiares e amigos de Mãe Bernadete”, escreveu Lula.

A Superintendência Regional da Polícia Federal, na Bahia, confirmou que a investigação da execução de Mãe Bernadete será feita pelo órgão. O assassinato de “Binho Quilombola” já é investigado pela PF, em sigilo, mas como reforçou a yalorixá em julho, o crime completou 6 anos sem resposta.

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