Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Mãe de Davi da Silva, desaparecido em ação policial desde 2014, morre sem acesso à saúde e sem ver justiça no caso do seu filho

Decisão que suspendeu júri de PMs ocorreu semanas antes da morte de Maria José da Silva que esperou mais de uma década por respostas do Estado
Imagem: Reprodução / TV Pajuçara

Por Karla Souza

Maria José da Silva morreu na última sexta-feira (12), em Maceió (AL), após complicações cardíacas. Ela era mãe de Davi da Silva, jovem que desapareceu em 25 de agosto de 2014, depois de ser levado por policiais militares em uma viatura no bairro do Benedito Bentes, parte alta da capital alagoana. A morte ocorreu dois meses após o Tribunal de Justiça de Alagoas suspender o julgamento dos policiais acusados no caso, que estava marcado para outubro deste ano.

Durante mais de 11 anos, Dona Maria José buscou respostas sobre o paradeiro do filho. As investigações apontam indícios de que Davi foi submetido à tortura e morto por policiais militares, mas o corpo dele nunca foi localizado. A ausência de respostas mobilizou familiares, organizações de direitos humanos e coletivos que acompanham casos de desaparecimento forçado envolvendo a atuação do Estado em territórios periféricos.

A suspensão do júri popular foi publicada uma semana antes da data prevista para o julgamento, frustrando uma expectativa construída ao longo de anos. Com a decisão, seguem em liberdade os policiais militares Nayara Silva de Andrade, Victor Rafael Martins da Silva, Eudecir Gomes de Lima e Carlos Eduardo Ferreira dos Santos, sem nova data definida para que o caso volte a ser apreciado pelo Tribunal do Júri da 8ª Vara Criminal da Capital.

Relembre o caso 

Davi desapareceu após ser levado por uma equipe do Batalhão da Radiopatrulha da Polícia Militar no Conjunto Cidade Sorriso I. Ele estava acompanhado de Raniel Victor Oliveira da Silva, principal testemunha do caso, encontrado morto meses depois do desaparecimento forçado de Davi. Desde então, o processo foi marcado por sucessivos recursos apresentados pela defesa dos acusados, incluindo habeas corpus que resultaram na revogação de medidas cautelares.

Mesmo respondendo às acusações, policiais envolvidos no caso receberam reconhecimento institucional. Em 2018, um dos réus, Victor Rafael Martins da Silva, foi promovido à patente de cabo pelo então governador Renan Filho (MDB), por ato classificado como bravura, decisão tomada apesar da contrariedade da Comissão de Promoção de Oficiais e Praças e sem detalhamento público sobre o critério adotado.

O primo de Davi, Magno Francisco, relacionou a morte de Dona Maria José à espera prolongada por justiça e às condições de acesso à saúde. “Dona Maria morreu porque estava esperando há meses a troca do seu marca-passo. Graças à precarização imposta ao SUS e por ser pobre, o coração dela não aguentou e parou. Dona Maria é mais uma vítima do Estado liberal, do seu aparelho de repressão contra os pobres, e do sistema capitalista”, afirmou, em declaração reproduzida por veículos de comunicação alagoanos.

Em nota, o Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente destacou que o caso ultrapassa a dimensão individual. Para a entidade, o desaparecimento de Davi e a morte de sua mãe evidenciam falhas estruturais do Estado em proteger vidas e investigar a violência institucional.

Compartilhar:

.

.
.
.
.

plugins premium WordPress