Maioria da população negra acredita que marcas não são autênticas ao falar sobre diversidade, mostra pesquisa

É notório que há uma maior preocupação na forma como as empresas lidam com a diversidade. No entanto, esse compromisso muitas vezes não é observado na prática.

Da Redação

Um estudo desenvolvido pelo Grupo Croma, revela que a maioria (52%) da população negra acredita que as marcas não são autênticas quando falam sobre diversidade. 

O dado do estudo Oldiversity se apresenta em um contexto em que, com o avanço dos debates sobre racismo e inclusão racial em todo o mundo, houve um reflexo no campo das empresas e marcas, que reformularam seus planos estratégicos e de marketing para apresentar, por exemplo, publicidades com mais diversidade. Contudo, nem todo redirecionamento de identidade soa genuíno. 

Por décadas, a única representação possível de pessoas negras nas mídias era restrita à posição de coadjuvante, limitada ao alívio cômico ou à abordagem estereotipada de suas vivências.

O aumento da presença da população negra em peças publicitária tem sido gradual. Um estudo conduzido pela agência Heads Propaganda em parceria com a ONU Mulheres, observou de 15 a 21 de fevereiro de 2020 comerciais nos canais de maior audiência na TV aberta, e em canais pagos. Os pesquisadores constataram que homens brancos protagonizaram 84% das campanhas, seguidos por mulheres brancas, com 74%. Mulheres e homens negros aparecem bem abaixo, com os papéis principais das peças em 22% e 7% respectivamente.

Apenas dois anos depois, em 2022, um levantamento do Meio & Mensagem mostrou que 53% das ações dos 20 maiores anunciantes do Brasil tiveram representatividade racial. Sendo esse resultado o maior desde 2018, e representando um aumento dos 44% do ano anterior.  

Nesse intervalo, houve o assassinato de George Floyd, em maio de 2020, nos Estados Unidos, catalisando uma onda global de protestos contra o racismo. Movimentos como o Black Lives Matter ganharam maior visibilidade, e grandes marcas, mídias e empresas foram pressionadas a enfrentar questões de diversidade, representatividade e inclusão em suas práticas internas e externas. Muitas corporações se comprometeram publicamente a investir em ações afirmativas e revisaram suas campanhas e políticas, enquanto os consumidores passaram a cobrar posturas mais alinhadas a valores de justiça social.

É notório que há hoje uma maior preocupação na forma como as empresas lidam com a diversidade. No entanto, esse compromisso muitas vezes não é observado na prática. A pesquisa do Grupo Croma aponta que 44% dos respondentes negros já foram vítimas de intolerância no trabalho; 73% acreditam que as empresas discriminam pessoas pretas no processo de contratação.

Entre o mesmo grupo de entrevistados, 59% afirmam que as propagandas mostram algo que não corresponde à realidade; 43% não se identificam com produtos comunicacionais que abordam a diversidade; e 40% acreditam que, no Brasil, a propaganda é racista.

Para Edmar Bulla, CEO do grupo Croma e idealizador do estudo, “empresas e marcas devem adotar uma postura atuante para superar o preconceito em relação às pessoas pretas. A criação de debates, o estímulo ao respeito mútuo e a adoção de políticas de empregabilidade e de impacto social são elementos para a construção de uma sociedade mais inclusiva”.

Por uma avaliação geral, entre os grupos LGBTQIAPN+, PCDs, pretos e 61+, as marcas mais ligadas à longevidade e à diversidade são a Natura (33%), O Boticário (12%), Avon (6%) e Globo (6%). Neste ano, pela primeira vez, a emissora escalou três protagonistas negras para suas novelas: Gabz, em Mania de Você, Jessica Ellen, em Volta por Cima, e Duda Santos, em Garota do Momento.

“Observando campanhas assim, vemos uma tendência de abranger cada vez mais públicos, mostrando respeito e valorização por todo tipo de diversidade. Isso está muito relacionado ao que grande parte do público quer ver e consumir. Ainda assim, a mudança de postura tem que ir além de campanhas publicitárias”, finaliza Bulla.

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