Por Patrícia Rosa
Foi preso nesta quarta-feira (10) o motorista de aplicativo Sergio Henrique Lima dos Santos, de 19 anos, suspeito da morte da jovem travesti de 18 anos, ocorrida no último sábado (06), em Luís Eduardo Magalhães (BA). O homem foi detido em Serrinha (BA), município a mais de 900 km de distância do local do crime, após ser indiciado por feminicídio.
Rhianna Alves foi morta estrangulada pelo motorista durante o trajeto entre Barreiras (BA) e Luís Eduardo Magalhães (BA), após ele contratá-la para um programa. A Justiça da Bahia aceitou a denúncia apresentada pelo Ministério Público (MP-BA).
De acordo com o delegado Leonardo Mendes Júnior, coordenador da polícia na região, a prisão foi realizada após a polícia reunir as provas necessárias para solicitar a medida à Justiça. “Priorizamos robustecer o procedimento com a finalidade de garantir a retirada do acusado do convívio social”, afirmou em nota publicada pela Polícia Civil.
O agressor, Sergio Henrique, havia se apresentado na delegacia no dia do crime com o corpo da jovem no carro, alegando que os dois discutiram e que ele teria agido em legítima defesa. Mesmo assim, foi ouvido e liberado. Segundo a Polícia Civil, a liberação ocorreu porque o homem se apresentou espontaneamente na unidade policial e confessou o crime.
Revolta e denúncias de tratamento desigual
A liberação do motorista de aplicativo gerou revolta. Organizações como o Fonatrans, a Comissão Permanente de Diversidade Sexual e Gênero da OAB Bahia e o Coletivo Mães pela Resistência publicaram uma nota conjunta, iniciando com o questionamento: “E se fosse ao contrário?”
“Será que se uma travesti ou uma mulher trans tivesse matado um homem cisgênero heterossexual alegando legítima defesa, ela seria liberada do mesmo modo, imediatamente? Será que, afirmando que não houve flagrante, o Estado aceitaria a narrativa com a mesma tranquilidade?”
Ives Bittencourt, advogado e presidente da Comissão Permanente também se manifestou diante do caso, denunciando a falta de urgência diante das mortes de pessoas trans e travestis.
“Quando uma pessoa trans é assassinada, o Estado raramente demonstra a mesma urgência. Quando uma pessoa trans reage e sobrevive, a tendência é de criminalização imediata, humilhação e encarceramento. Essa diferença de tratamento revela que não estamos apenas diante de um caso isolado, mas de uma máquina social que insiste em produzir vidas que podem morrer e vidas que o Estado escolhe preservar.”


