Movimento de Mulheres Negras da Paraíba adere a novas tecnologias para seguir organizadas na pandemia

Com a pandemia do Covid-19 no Brasil muitas organizações sociais e pequenas e médias empresas sofreram grandes impactos em suas produções. Neste contexto, as tecnologias de informação e comunicação se tornaram ferramentas aliadas para a permanência e continuidade dos trabalhos. Nos movimentos de Mulheres Negras da Paraíba o processo de adaptação

Mesmo com as dificuldades das lutas, militantes mais velhas destacam a felicidade de perceberem a renovação do movimento

Por Vanessa Gomes*

Com a pandemia do Covid-19 no Brasil muitas organizações sociais e pequenas e médias empresas sofreram grandes impactos em suas produções. Neste contexto, as tecnologias de informação e comunicação se tornaram ferramentas aliadas para a permanência e continuidade dos trabalhos. Nos movimentos de Mulheres Negras da Paraíba o processo de adaptação a estas tecnologias vem ocorrendo cotidianamente, apesar da dificuldade de acessibilidade que muitas mulheres negras ainda enfrentam, e dos difíceis processos existentes nas plataformas digitais principalmente em relação à segurança da informação.

Ações totalmente virtuais como o Minicurso AYA, organizado pela Abayomi – Coletiva de Mulheres Negras na Paraíba, entre os meses de junho e julho e discutiram temas como o racismo estrutural, o feminismo negro, políticas de segurança pública e saúde da população negra; ou a 22ª edição do 25 de Julho na Paraíba, ligada a 8ª edição do Julho das Pretas, com 31 dias consecutivos de atividades, desde rodas de conversas virtuais até mesmo às lives culturais. Ou ainda o projeto Akoben, que busca minimizar os impactos da pandemia do Covid-19 na vida de mulheres negras quilombolas e periféricas, realizado pela Bamidelê – Organização de Mulheres Negras na Paraíba, são alguns exemplos de atividades realizadas pelos movimentos negros feministas paraibanos como enfrentamento ao atual cenário catastrófico do país.

Abayomi – Coltiva de Mulheres Negras na Paraíba, em atividade – Preciosa Tarde Negra em 2017

 

A professora doutora Solange Banto Rocha, cofundadora da Bamidelê (fundada em 2001), disse considerar muito positivo as recentes reconfigurações dos movimentos negros na Paraíba, em particular o Movimento de Mulheres Negras, que segue em processo contínuo de mobilização, pois a cada ano as novas gerações têm assumido o papel de continuar, fortalecer e apresentar (novas) demandas de luta.

Solange Rocha (a terceira da esquerda para direita) na Marcha de Mulheres Negras de 2015 – Imagem: Reprodução

Vale ressaltar que a pandemia do Covid-19 expandiu consideravelmente as desigualdades sociais, e diante disso a Bamidelê está desenvolvendo um projeto emergencial para famílias carentes com apoio de produtos de higiene e alimentação e, sobretudo, com campanhas informativas e educativas, tudo sob o protagonismo das mulheres. O projeto tem o apoio do Fundo Socioambiental Casa e está ocorrendo simultaneamente na Comunidade Quilombola Caiana dos Crioulos em Alagoa Grande – PB e no Bairro Marcos Moura em Santa Rita – PB.

Segundo Luciane Tavares, quilombola da Comunidade Quilombola Caiana dos Crioulos, no município de — Alagoa Grande (PB): “o Movimento Negro da Paraíba nesse momento se encontra bastante ativo, principalmente o movimento de Mulheres. Que está tendo o cuidado também de formar outras mulheres, para que sejam conhecedoras de seus direitos, e se empoderem cada vez mais, e além de tudo continuamos trabalhando para tomarmos todos os cuidados possíveis nessa pandemia”.

Luciene Tavares (segunda da esquerda pra direita) com algumas meninas do Quilombo Caina dos Crioulos – Imagem: Reprodução

De acordo com a assistente social e mestranda em Serviço Social, Kíssia Wendy, as estratégias que estão sendo adquiridas pelos movimentos negros feministas na Paraíba para lidar com a permanência da organicidade na luta são múltiplas. Um exemplo é o empenho em enfrentar as barreiras impostas pelo isolamento social mediante a utilização dos recursos tecnológicos como as redes sociais, ela complementa: “não podemos esquecer que estamos diante de desafios enormes, uma vez que muitas das nossas não têm acesso à internet e nem aos dispositivos necessários para participarem desses espaços, sem falar na habilidade para o manejo das tecnologias”.

A esquerda, Kíssia Wendy – Imagem: Reprodução

A atual conjuntura tem reforçado cada vez mais os processos de desigualdades provocadas pelo racismo. Na projeção de pensar um cenário pós-pandemia para os movimentos negros feministas paraibanos, Kíssia Wendy diz: “Acredito que precisamo cada vez mais estreitar nossos laços pretos e femininos, fazendo memória de nossas conquistas e elaborando estratégias que promovam o nosso aquilombamento, é necessário unirmos esforços e buscar aquelas que ainda não foram alcançadas pelo significado e a importância da nossa luta”. O Bem – Viver da população negra sempre foi e sempre será o principal objetivo pelo qual as mulheres negras se organizam e se articulam coletivamente. E em nível estadual, as organizações paraibanas de mulheres negras continuam fortes e estratégicas por e para o seu povo.

 

* Estudante de Relações Públicas na Universidade Federal da Paraíba. Ativista da Abayomi – Coletiva de Mulheres Negras na Paraíba, da Articulação de Jovens Negras Feministas, do Fórum de Juventude Negra da Paraíba e também da Coletiva Aroeira de Povos de Terreiro.

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