Bolsonarista que recusou dar comida à mulher é identificado como empresário do Agro com dívidas na Justiça; MST já atuava na região, mas políticas públicas para combater a fome tem sido sucateadas desde o Governo Temer
Por Andressa Franco
Imagem: Rivaldo Gomes/FolhaPress
Na última semana, circulou nas redes sociais o vídeo de um apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL) humilhando uma senhora em condições de insegurança alimentar e negando assistência por declarar voto em Lula. “Então tá bom aqui ó: ela é Lula. A partir de hoje não tem mais marmita. A senhora pede para o Lula agora.”, diz no vídeo gravado por ele mesmo.
Integrantes da coordenação Regional Sudoeste (SP) do Movimento Sem Terra (MST) localizaram Ilza Ramos Rodrigues, moradora de Itapeva (SP), onde a entidade mantém ações de doação de alimentos desde 2008, e levaram uma cesta de produtos saudáveis para a mulher. Através do “Projeto Nos Propomos”, o MST organizou uma ação de apoio e solidariedade para Dona Ilza, e no último domingo (11) foram até a casa da senhora entregar os alimentos arrecadados.
“Doamos diversos produtos da Reforma Agrária Popular à família, que por uma situação de medo e vulnerabilidade achou melhor se resguardar nesse momento”, informa o post da organização, que garantiu para a senhora alimentos da reforma agrária, produzidos pelas famílias assentadas, pelos próximos seis meses.
No mesmo domingo (11), a identidade do autor do vídeo também passou a circular nas redes. Identificado como Cássio Joel Cenali, ele é um empresário do agronegócio de Itapeva, e responde por uma série de processos no Tribunal de Justiça de São Paulo, um desses pelo não pagamento do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). O empresário também recebeu R$ 5,250 mil do programa de assistência social Auxílio Brasil, segundo informações da rede Jornalistas Livres.
Fome como projeto político
O MST atendia desde 2008 a comunidade onde vive Dona Ilza através de uma associação do bairro a partir do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que sofreu com cortes orçamentários no governo Temer.
A política foi criada em 2003 no âmbito do Programa Fome Zero, no primeiro governo do ex-presidente e hoje candidato Lula (PT), que chegou a comprar quase R$ 1 bilhão em alimentos produzidos sem agrotóxicos em pequenos estabelecimentos.
No governo Bolsonaro, os recursos para o programa chegaram a cair para 10% do que foi aplicado em 2012. Uma nota técnica publicada pela Fian Brasil – Organização pelo Direito Humano à Alimentação e à Nutrição Adequadadas em fevereiro deste ano afirma que “o governo federal não tomou nenhuma iniciativa para assegurar sua execução [do PAA], preferindo apostar na edição do Alimenta Brasil”.
Com a substituição do PAA para “Alimenta Brasil”, o programa perdeu parte dos critérios para distribuição, como a priorização de regiões onde os índices de pobreza são maiores, ao ter a maior parte do seu orçamento atrelado às emendas de relator, o chamado Orçamento Secreto.
Vale destacar que dados do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, realizado pela Rede PENSSAN, revelaram que 33 milhões de pessoas estão passando fome (15,5% da população), e 125 milhões encontram-se em algum nível de insegurança alimentar (58,6%).