Por Patrícia Rosa
Neste domingo (24), mulheres lésbicas e bissexuais vão ocupar o Jardim de Alah, em Salvador (BA), no Ato Público da Visibilidade Lésbica e de Mulheres Bissexuais da Bahia. A atividade integra a programação da 10ª edição do “Enlesbi – Encontro de Lésbicas e Mulheres Bissexuais da Bahia”.
O ato público terá início às 10h. A presença da comunidade nas ruas faz parte da luta por reparação histórica e da denúncia das violências acumuladas pelo racismo, sexismo, lesbofobia, bifobia e transfobia, mas também anuncia novos pactos de vida pelo Bem Viver.
A violência contra mulheres lésbicas e bissexuais no Brasil continua invisibilizada, e os números disponíveis estão longe de revelar toda a dimensão do problema. Segundo o Grupo Gay da Bahia (GGB), em 2024 foram registradas 224 mortes violentas de pessoas LGBTQIA+, um crescimento de 8,8% em relação a 2023, quando houve 257 casos. Dentro desse cenário, mulheres lésbicas representaram 3,78% das vítimas e bissexuais, 2,41%. O levantamento ainda denuncia que a Bahia ocupa o segundo lugar no ranking de mortes violentas, com 31 vítimas, embora não detalhe quantas dessas mortes foram de lésbicas ou bissexuais. Vale destacar que, devido à subnotificação e à ausência de registros oficiais específicos, esses números podem ser ainda maiores.
Os dados do LesboCenso Nacional também trazem números expressivos sobre a exposição à violência vivenciada por mulheres lésbicas e bissexuais brasileiras. O levantamento, que ouviu mais de 25 mil mulheres em todas as regiões do país, 78,61% delas já sofreram algum tipo de lesbofobia.
A disparidade entre os dados expõe a realidade da subnotificação nos casos de violência contra mulheres da comunidade. Joana Bennus, bissexual e ativista do Odara – Instituto da Mulher Negra, analisa que a ausência de compromisso do Estado na produção de dados oficiais sobre a LBTfobia no Brasil compromete a formulação de políticas públicas e contribui para a contínua exposição dessas mulheres à violência. O que impacta na possibilidade de produção de políticas públicas que protejam estas mulheres.
Amélia Maraux, uma das articuladoras do Enlesbi e professora da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), destaca a importância do ato. “Nos mostrar na rua é afirmar que nossos corpos são possíveis, existem e resistem. A lesbofobia e o lesbo-ódio mostram que é preciso reconhecer as lesbianidades e as bissexualidades. Este ato é justamente isso: o reconhecimento público da nossa existência.”
O Enlesbi propõe o tema ‘10 anos desaguando (re)existências, alianças, rebeldias e afetos em ginga’ e reúne ativistas de diferentes territórios do estado em rodas de conversa sobre movimento social, universidade, identitarismo, políticas públicas, racismo estrutural, religiosidades, maternagem, ‘avosidade’ e relações intergeracionais.
Esta edição do Enlesbi, que celebra uma década de existência, se conecta à histórica Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, que acontece no dia 25 de novembro. Amélia lembra que a luta contra o racismo também atravessa a luta pela existência lésbica e bissexual.
“Em novembro, estaremos nas ruas pelo Bem Viver, contra a lesbofobia e a bifobia. Estar aqui no Enlesbi, trazendo a discussão sobre a Marcha, é reconhecer que este espaço também é de enfrentamento à misoginia, ao machismo e ao racismo. Marchamos com as mulheres negras porque queremos um país livre e democrático — e isso não existe sem o enfrentamento ao racismo.”
O Enlesbi é realizado pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), com apoio do Instituto Odara, Rede LesBi Brasil, Frente Nacional de Lésbicas Desfem, Grupo Amuleto, Coletivo de Mulheres Negras Ayomidê Yalodê, Grupo de Pesquisa Candaces (UNEB), entre outras entidades.