Por Matheus Souza
Vítima de um ato criminoso e irresponsável, Emerson Pinheiro, jovem de 29 anos, negro, estudante de educação física, maratonista e morador de Salvador (BA) teve uma de suas pernas amputada e segue em internado no Hospital Geral do Estado (HGE). O jovem foi atropelado por Cleydson Cardoso Costa Filho, de 26 anos, filho da vereadora Débora Santana (PDT), que dirigia embriagado na orla da Pituba no dia 16 de agosto.
Júnior Cavalcante, que se tornou amigo de Emerson através da corrida, vem acompanhando o caso de perto e conta que seu colega estava se preparando para participar de uma corrida na Argentina e, logo após, outra em Salvador, quando o acidente aconteceu. O maratonista, próximo a família do jovem, conta que apesar de seguir internado, Emerson recebeu alta da UTI e agora está sob observação na enfermaria do hospital.
“O quadro por enquanto é estável. Ainda não há 100% de certeza se a outra perna também terá de ser amputada. Ele está usando o sistema articulador para fixar a perna. Ele está bem e passa o tempo lendo livros”, revelou.
Júnior conta que ele e Emerson começaram a correr na mesma época, após o fim da pandemia de Covid-19, em 2021, e que o jovem era muito ativo em participar dos eventos esportivos na cidade. “Emerson mora com a avó, foi criado por ela. Nós começamos a correr na mesma época, logo após a pandemia. Ele é um cara que sempre se envolve nas corridas. Se não estivesse correndo, estava lá com a gente, no domingo, com sua bicicleta, incentivando o pessoal. Infelizmente aconteceu essa tragédia.”

Na manhã do dia 17 de agosto, Júnior e outros corredores se reuniram no Farol da Barra para homenagear Emerson e pedir por justiça. Uma mobilização também foi organizada a fim de arrecadar bolsas de sangue para o jovem, que após o grave acidente necessitava de uma transfusão. A campanha conseguiu mais de 500 doações, ajudando não só o atleta, mas também diversos outros pacientes.
“A gente fez uma mobilização sobre doação de sangue e graças a Deus conseguimos atingir mais que o necessário. Vamos conseguir ajudar não só o Emerson como várias outras pessoas que também precisam. Ficamos muito felizes com o resultado”, comemora.
Imprudência

Na manhã do sábado fatídico, na direção de Emerson, outro jovem também corria em alta velocidade, sob efeito de álcool e no volante de um carro. Cleydson Cardoso Costa Filho foi preso em flagrante logo depois de atropelar o maratonista. No momento da prisão, Cleydson não conseguia falar nem andar normalmente, e sequer conseguiu completar o teste do bafômetro devido ao estado de embriaguez. Ao ser entrevistada pelo portal A Tarde, ainda no sábado, a mãe do rapaz alegou que o mesmo sofre de “problemas mentais” e faria uso de remédios controlados.
Júnior alerta para os riscos constantes que atletas e outras pessoas que praticam corrida em Salvador e utilizam as ruas da cidade para treinar são expostos. Segundo o maratonista, os motoristas não respeitam os corredores e frequentemente dirigem de maneira imprudente, ameaçando a integridade física de atletas profissionais e amadores.
O estudante de Educação Física salienta que é preciso mais pistas reservadas para prática esportiva na cidade, e uma melhor manutenção das que já estão disponíveis: “Tem que ter uma pista reservada para nós corrermos. A pista de Pituaçu, que usamos para treinar, foi diminuída pela metade. A ciclovia da Av. Garibaldi, por exemplo, está incompleta, fazendo com que a gente tenha que dividir espaço com os carros. Os cones que usamos para sinalizar são frequentemente quebrados pelos veículos que passam.”
Neste último sábado (23) foi promovido um treino solidário organizado por Júnior e outros atletas corredores de Salvador na Av. Professor Magalhães Neto, no bairro de Amaralina, para conscientizar a população sobre os corredores de rua e pedir justiça para o caso. A campanha também arrecadou fundos para bancar o acompanhamento médico que Emerson necessitará após deixar o hospital. “Não podemos parar, não podemos deixar esse assunto cair no esquecimento. Quanto mais a gente falar, e usar as redes sociais para conscientizar sobre o caso, melhor”, finaliza Júnior.