Tuíre Kayapó, conhecida por sua luta contra a construção da usina de Belo Monte e pelos direitos das populações indígenas, faleceu na manhã do último sábado (10). A morte da líder indígena, aos 57 anos, foi confirmada por sua sobrinha Oé Kayapó. Tuíre enfrentava um câncer de útero e estava em tratamento desde 2023.
No final da década de 1980, aos 19 anos, Tuíre se destacou durante uma audiência em Altamira, no Pará, ao passar a lâmina de um facão nos dois lados do rosto do presidente da Eletronorte, José Antônio Muniz Lopes. Este gesto, que interrompeu os planos de construção de um complexo de hidrelétricas no rio Xingu, simbolizou a resistência indígena e resultou na paralisação das obras por 20 anos. A mudança do nome do projeto de Kararaô para Belo Monte evidenciou a força de sua intervenção.
Ela se manteve ativa politicamente durante toda a sua vida, inclusive na luta contra o Marco Temporal em 2023. Em uma entrevista ao Brasil de Fato, ela destacou a desconexão entre os políticos que insistem em determinar o futuro da floresta sem conhecer sua realidade: “Nós nos acostumamos a morar dentro da Amazônia, porque a Amazônia está lá nos guiando. Lá nós nos alimentamos bem e não tem doença, nenhuma doença. Por isso o pessoal não pode destruir nossa Amazônia, nossa floresta. Eu não quero. Porque senador vive na cidade, deputado vive na cidade. Eles não moram dentro da floresta. Nós não, nós vivemos na floresta, na Amazônia. Por isso que eu não quero o Marco Temporal.”
A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) expressou profundo pesar pelo falecimento de Tuíre Kayapó, destacando sua força e coragem como marcas indeléveis na história do Brasil. Em publicação, a Funai reconheceu Tuíre como um símbolo de resistência e justiça, ressaltando seu papel como precursora na luta das mulheres indígenas por direitos.
Tuíre Kayapó deixou um legado que continuará inspirando a luta pela defesa dos territórios indígenas e pela proteção da floresta.