Por Karla Souza
Um vídeo feito por uma testemunha na madrugada de domingo (18) mostra um homem caído no chão sendo espancado por três policiais militares, na Rua São Pedro de Nova Friburgo, no bairro Jardim das Imbuias, Zona Sul de São Paulo (SP). As imagens mostram os agentes utilizando cassetetes e chutando violentamente a vítima, que grita de dor enquanto tenta se proteger.
A gravação revela que um dos policiais desferiu uma sequência de golpes no abdômen da vítima, enquanto outro militar participa ativamente das agressões. Um terceiro policial observa a cena segurando uma arma longa. O som dos golpes é audível durante todo o vídeo.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP), os policiais afirmaram que a abordagem ocorreu após identificarem que o homem estava na posse de uma motocicleta roubada. Depois das agressões, ele foi preso e levado ao 101º Distrito Policial, onde o caso foi registrado como receptação, adulteração de sinal identificador de veículo automotor e localização de veículo.
Em nota, a Polícia Militar afirmou que a ação “não condiz com as diretrizes da corporação”. Os três agentes foram afastados das atividades operacionais e um Inquérito Policial Militar (IPM) foi instaurado. A SSP também informou que desvios de conduta e excessos “não são tolerados” e que os agentes envolvidos ficarão à disposição da Corregedoria.
Em entrevista ao portal G1, o ouvidor da Polícia de São Paulo, Mauro Caseri, afirmou que o episódio ultrapassa a definição de agressão, sendo definido como tortura.
Aumento da letalidade da PM de São Paulo
O episódio no Jardim das Imbuias não foi o único registrado no mesmo final de semana na Zona Sul da capital paulista. Na Vila Andrade, um jovem de 19 anos foi morto por policiais militares após uma perseguição.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), foi questionado sobre o caso durante o lançamento do programa SuperAção, na manhã da última terça-feira (20). Sem mencionar diretamente o episódio, respondeu que “não vai tolerar a violência policial, não vai tolerar excessos”, e que os policiais envolvidos foram afastados. “Eles ficam à disposição da Corregedoria, fora do serviço de rua até o esclarecimento. Havendo constatação de que houve excesso, eles vão ser punidos severa, rigorosamente”, afirmou.
A declaração ocorre em meio às críticas sobre a política de segurança pública adotada desde o início de sua gestão. Tarcísio é o responsável por retirar as câmeras corporais de parte do efetivo da Polícia Militar e por nomear para a Secretaria de Segurança Pública um oficial da própria corporação, o capitão Guilherme Derrite, defensor de práticas como o policiamento ostensivo e o uso intensivo de armamento pesado.
Em edital publicado em maio de 2024, o governo de São Paulo determinou a alteração do uso das câmeras corporais acopladas aos uniformes dos policiais. O sistema que previa a gravação contínua e ininterrupta foi substituído por outro modelo, em que os registros só serão feitos quando os próprios agentes acionarem os dispositivos.
Relatório da Rede de Observatórios da Segurança, intitulado “Pele Alvo: Mortes Que Revelam Um Padrão”, revela que o número de mortes provocadas pela polícia paulista cresceu 21,7% em 2023, primeiro ano do atual governo, interrompendo um ciclo anterior de redução dos índices.
Do total de vítimas, 66,3% eram pessoas negras e mais da metade tinha entre 12 e 29 anos. Dados do Ministério Público de São Paulo, via Gaesp, apontam que o estado registrou, entre 2023 e 2024, o maior número de mortes por intervenção policial da década, com crescimento de 65%. A maior parte desses óbitos foi causada por policiais da ativa, em serviço, em operações frequentemente realizadas nas periferias e com forte impacto sobre a população negra.