Palestrantes brasileiras denunciam caso de racismo durante Brazil Conference, em Harvard

As ativistas do Instituto Duclima relataram que três brasileiras brancas fizeram comentários racistas em inglês sobre seus cabelos

Da Redação

Duas palestrantes negras denunciaram terem sido vítimas de racismo durante um painel da 10ª edição da Brazil Conference, evento que aconteceu no último final de semana na cidade de Cambridge, em Massachusetts, nos Estados Unidos.

Naira Santa Rita e Marta Melo integram o Instituto Duclima, que atua no combate ao racismo ambiental, e fazem parte do programa de embaixadores da Brazil Conference 2024. Elas relataram o caso de racismo neste domingo (7), segundo dia de conferência no MIT (Massachusetts Institute of Technology).

“Foram muitas situações de violência que vivenciamos aqui”, começou Naira. A ativista contou que ela e Marta estavam assistindo a um dos painéis, no sábado (6), primeiro dia de evento, quando ouviu três brasileiras brancas, estudantes da universidade norte-americana, conversando em inglês sobre seus cabelos, aos risos: “Vê essas negras? Será que tem piolhos nessas tranças e dreads?”.

“O que elas não esperavam, é que eu falo em inglês. Imediatamente as olhei de forma que elas entenderam que eu havia entendido o racismo que estava acontecendo ali, e se retiraram”, continuou. Naira afirmou ainda que, em outras situações, teria confrontado as mulheres, por acreditar que o constrangimento, principalmente em situações de racismo, é pedagógico. No entanto, se viu na necessidade de calcular sua reação.

“Porque eu e a Marta, mulheres negras, temos muito mais a perder do que três meninas brancas de Harvard. Se nós tivéssemos confrontado, teríamos sido vistas como mulheres negras raivosas, escandalosas e até mesmo vitimistas.”

O evento é organizado desde 2014 por estudantes brasileiros de algumas das mais prestigiadas universidades do mundo. O encontro reuniu acadêmicos, líderes e representantes de diversos setores para discutir soluções para os desafios sociais enfrentados pelo país. 

Naira e Marta levaram a denúncia ao público ao final de um painel sobre impacto social, mediado pela atriz e apresentadora Regina Casé. Em seu discurso, cobraram a organização do evento e os patrocinadores a respeito de medidas que coíbam atos como os que sofreram, para que o antirracismo não esteja apenas no discurso. 

“O Brasil que está aqui é o Brasil que é fruto do privilégio do histórico escravocrata? O Brasil que está aqui reflete os herdeiros do Brasil? Os indicados do Brasil? O Brasil que tem legado de tráfico, de exclusão, violência e exploração dos corpos negros, indígenas e plurais? ”, questionou Naira.

Os Co-Presidentes da Brazil Conference comentaram o relato das jovens durante a cerimônia de encerramento, no entanto, evitando utilizar a palavra “racismo”. Em seu discurso, o organizador da conferência, Eric Navarro, informou que o tema seria discutido após o evento, e que as deliberações seriam tornadas públicas.

Em entrevista ao UOL, Marta criticou a “falta de cor” na Co-presidência da Brazil Conference, e o receio de falar a palavra ‘racismo’. “As pessoas têm receio de falar, de mostrar o que realmente é um crime. […] É muito doloroso, porque a gente vem de uma realidade muito dura. E a gente vem aqui com o sentimento de que é uma comunidade antirracista, e o que a gente viu hoje aqui não é.”

Em nota padrão nas suas redes sociais, a Brazil Brazil Conference afirmou repudiar o racismo, e ofereceu apoio às vítimas. “[..] A Brazil Conference está comprometida em promover um ambiente inclusivo e diverso, onde todas as vozes são respeitadas e valorizadas. Lamentamos profundamente qualquer incidente de racismo que tenha ocorrido durante o evento e estamos tomando medidas para endereçar o acontecido.”No mesmo dia, a organização publicou uma segunda nota, informando que “o conselho e a coordenação do evento se reuniram para tratar da gravidade do episódio de racismo ocorrido na plateia e encontrar os encaminhamentos adequados”. A publicação também adiantou que deve publicar até a próxima sexta-feira (12) os compromissos para a Conferência de 2025, ressaltando como princípio norteador que “tais episódios não irão se repetir.”

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