Podcaster Déia Freitas é ameaçada após anunciar vaga para mulheres negras e indígenas

Nesta segunda-feira (10), a roteirista e podcaster do “Não Invibilize” Déia Freitas anunciou em seu Twitter uma vaga para assistente de roteiro. O perfil para participar das seleções acompanhava a publicação: “mulher cis, mulher trans, travesti, somente pretas, pardas e indígenas”.

A podcaster recebeu ameaças de processo por discriminação contra homens e pessoas brancas e perdeu acesso ao e-mail em que receberia os currículos. Antes disso 60 currículos foram recebidos, mas a maioria era de pessoas brancas

Por Andressa Franco

Nesta segunda-feira (10), a roteirista e podcaster do “Não Invibilize” Déia Freitas anunciou em seu Twitter uma vaga para assistente de roteiro. O perfil para participar das seleções acompanhava a publicação: “mulher cis, mulher trans, travesti, somente pretas, pardas e indígenas”.

Menos de 24 horas depois, a podcaster perdeu o acesso ao e-mail em que receberia os currículos, após o que parece ter sido uma onda de tentativas de login. Nesse meio tempo, recebeu ameaças de processo por discriminação contra homens e pessoas brancas.

Antes de perder o acesso ao e-mail, 60 currículos foram recebidos. Mas a maioria era de pessoas brancas que tentaram participar da seleção, mesmo com todas as especificações do perfil. “Eu amava seu podcast por você ser democrática e mostrar sororidade. Pelo menos foi o que eu pensava. Achei que minha cor não tinha a ver com a minha competência. Eu até aceitaria você receber meu currículo e não achar que eu me encaixava na vaga, mas acho que preciso nascer de novo”, escreveu uma usuária também no Twitter.

Também eram pré-requisitos a idade mínima de 25 anos, sem limite de idade máxima. “A vaga contempla também mulheres PCD, desde que sejam pretas, pardas ou indígenas. Pode mãe solo, pode casada, pode solteira, pode tico-tico no fubá, pode hétero, pode lésbica, pode bi, pode tudo, isso não é importante para a vaga”. Com remuneração de R$ 22 mil, em um contrato de quatro meses.

Apesar dos ataques, Freitas decidiu manter a seleção exclusivamente para mulheres pretas, pardas e indígenas. “O e-mail está funcionando novamente, quem tem o perfil da vaga pode mandar o currículo + a redação até o dia 16/01. Vou me afastar um pouco das redes porque agora a notícia chegou nos bozos e tá muito difícil pra mim”, publicou na manhã desta quarta-feira (12).

O Estatuto da Igualdade Racial, instituído em 2010 pela Lei 12.888, permite esse tipo de seleção e apoia a promoção de ações afirmativas para “correção das desigualdades raciais e para a promoção da igualdade de oportunidades”.

Casos semelhantes já aconteceram com grandes empresas. Como a Magazine Luiza que, poucos meses depois dos protestos “Black Lives Matter” por todo o mundo motivados pelo assassinato de George Floyd em 2020, anunciou inscrições para um programa de trainee oferecendo vagas exclusivas para pessoas negras.

A iniciativa repercutiu tanto positivamente quanto negativamente, com acusações até mesmo de “racismo reverso”. Em setembro do ano passado, a gigante do varejo lançou nova edição do programa.

O mesmo aconteceu com a Bayer no mesmo período. Em um mês, 10 mil candidatos se inscreveram para concorrer a 19 vagas para trainee voltadas para pessoas negras. E a empresa recebeu as mesmas acusações que a Magazine Luiza.

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