Publicação reúne vozes e caminhos para a reparação racial no Brasil

Com curadoria de Luciana da Cruz Brito e apoio do Instituto Ibirapitanga, o livro ‘Reparação: memória e reconhecimento’ nasce de um seminário que uniu intelectuais, ativistas e comunidades tradicionais
Imagem: Reprodução

Por Catiane Pereira

Refletir sobre os impactos da escravidão e construir caminhos concretos para sua reparação são os objetivos centrais do livro Reparação: memória e reconhecimento. A obra nasce a partir de um seminário realizado em 2023 e reúne debates sobre os significados políticos e históricos da reparação, com foco na memória, na justiça e na dignidade da população negra brasileira. O livro se apresenta como um instrumento para aprofundar o pensamento negro contemporâneo e fortalecer o debate público sobre políticas reparatórias no Brasil.

A cocuradoria do livro foi conduzida pela historiadora Luciana da Cruz Brito, que acompanhou desde o início o processo de concepção do seminário. “Foi um projeto intenso pensado por várias pessoas, com escuta de todos nós”, explica. Segundo ela, a proposta surgiu após uma imersão nos Estados Unidos, onde ela e a equipe visitaram experiências de memória e de reparação racial naquele país. 

O livro reúne oito rodas de conversa que discutem diferentes perspectivas sobre as consequências do passado escravista e como elas ainda moldam as desigualdades no país. Intelectuais nacionais e internacionais, lideranças quilombolas, representantes de movimentos negros e pesquisadores comprometidos com a luta antirracista participam da publicação.

Entre os nomes que assinam os textos estão Conceição Evaristo, Nego Bispo, Ana Maria Gonçalves, Lia Vainer Schucman, Justin Hansford, Salloma Salomão, Selma Dealdina, Ynaê Lopes dos Santos, Galo de Luta e Vilma Reis. As contribuições exploram temas como indenização jurídica e financeira, preservação da memória cultural e disputa pelo reconhecimento histórico. “A reparação deve ser uma intersecção de todos os aspectos: financeiro, jurídico, cultural, simbólico e educacional. Sem coordenação entre essas frentes, não há política de reparação possível”, pontua Luciana.

Luciana da Cruz Brito, cocuradora da publicação – Imagem: Arquivo Pessoal

Além das falas registradas, o livro inclui apresentação da Ebomi Cici de Oxalá, posfácio inédito de Luciana da Cruz Brito, ilustrações de Mayara Ferrão e QR codes com vídeos dos momentos mais marcantes do seminário. O material amplia a experiência do leitor e oferece acesso direto às discussões realizadas. “Esperamos que esse livro seja usado em escolas, espaços de memória e cultura, mas também acessado por pessoas comuns preocupadas em desempenhar um papel na construção de um Brasil mais justo”, revela a cocuradora. 

O evento que originou a publicação teve como desafio descentralizar os debates. “Buscamos trazer lideranças de todo o país, intelectuais das classes populares, do movimento de entregadores, quilombolas, além de mães que perderam seus filhos para a violência do Estado. Que esse livro seja um legado para o futuro, mas também uma ferramenta para quem está lutando agora por um presente melhor”, afirma Luciana.

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