Quem vive mais no Brasil: população negra é maioria, mas proporção encolhe após os 60 anos

Pesquisa do Centro de Estudos e Dados sobre Desigualdades Raciais analisou desigualdades na renda e condições de moradia entre brancos e negros, revelando os impactos na longevidade da população.

Da Redação

É fato que as mulheres negras são o maior grupo populacional do Brasil, conforme mostram os censos demográficos do país. No entanto, à medida que a faixa etária aumenta, esse cenário se inverte, especialmente quando se supera os 60 anos. É o que revela uma pesquisa do Centro de Estudos e Dados sobre Desigualdades Raciais (Cedra), com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE.

Segundo os números, entre 2012 e 2023 as mulheres negras corresponderam a 27,8% do total da população, seguidas pelos homens negros com 27,4%. As mulheres brancas equivalem a 22,8% dos brasileiros, e os homens brancos a 21,1%.

No entanto, nesse mesmo período, quando olhamos apenas para a parcela da população acima de 60 anos, o maior grupo populacional brasileiro passa a ser o de mulheres brancas (29,4%), seguidas de homens brancos (22,4%), mulheres negras (25,7%) e por fim homens negros (21,2%).

Isso significa que a expectativa de vida de pessoas brancas é maior que a de negras, ou seja, que as pessoas negras estão morrendo mais e mais cedo.

O Cedra também analisou a diferença de renda entre esses grupos, apontando que entre 2012 e 2023, as pessoas negras em situação de extrema pobreza – que viviam com até R$ 209 por mês – passaram de 70,5% para 73,5%. Além disso, mais de 60% dos negros viviam com renda de até um salário-mínimo. Enquanto entre os brancos esse percentual cai para menos de 40%. Por fim, o estudo observou que a renda média nos domicílios com negros era menos da metade da renda dos domicílios sem negros. 

Os números indicam para uma maior mobilidade social entre brancos, visto que eles têm mais chances de sair das faixas mais pobres. Mais que isso, se a tendência se mantiver nesse ritmo, devemos levar 340 anos para superar as diferenças entre esses percentuais que distanciam as condições de vida entre brancos e negros no Brasil.

Outra conclusão a que chegou o Centro de Estudos, foi a de que a fonte de renda e o tempo para trabalhar fora de casa das mulheres é diretamente afetado pelo trabalho doméstico. Isso a partir de dados de estrutura dos domicílios, como por exemplo o fato de que apenas 21,1% das casas com responsáveis negros tinham máquina de lavar roupas, em contrapartida entre os brancos esse indicador é mais do que o dobro (45,1%).

Em outras estruturas a discrepância entre brancos e negros também foi constatada: como a presença de coleta de lixo e de casas com revestimento permanente. São elementos que, assim como acesso a água, esgoto, saneamento, iluminação, boas moradias e habitações, arborização, estão intrinsecamente relacionados às condições de saúde e, consequentemente, à expectativa de vida.

Vale ressaltar que no período analisado pela pesquisa, o número de mulheres negras chefiando o lar cresceu 10,8 pontos percentuais.

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