Salvador e RMS apresentam aumento de 47% na letalidade da violência armada no mês de janeiro em comparação a 2023

Relatório aponta para aumento de 31% nas mortes ocorridas em ações policiais. Do total de atingidos por armas de fogo, 46% eram negros.

Relatório aponta para aumento de 31% nas mortes ocorridas em ações policiais. Do total de atingidos por armas de fogo, 46% eram negros.

Texto: Divulgação

Imagem: Divulgação PM

Em janeiro de 2024, a cidade de Salvador (BA) e Região Metropolitana (RMS) apresentaram aumento de 47% na letalidade da violência armada, em comparação com janeiro de 2023. De acordo com relatório do Instituto Fogo Cruzado, 152 pessoas foram baleadas no primeiro mês do ano: 116 morreram e 36 ficaram feridas. Em comparação ao número de pessoas baleadas em 2023, houve um aumento de 67%.

O número de mortos em Salvador e RMS é 103.5% maior que o registrado na região metropolitana do Rio de Janeiro, que registrou 57 mortes por arma de fogo no mesmo período.

As 116 mortes registradas foram resultado dos 168 tiroteios mapeados em janeiro, que também deixaram outras 36 pessoas feridas. Do total de tiroteios, 67 ocorreram em ações policiais que culminaram na morte de 38 pessoas e deixaram outras 11 feridas.

O número representa um aumento de 31% nas mortes ocorridas em ações e operações policiais, em comparação ao mesmo período de 2023.

“Os números desse começo de ano não deixam dúvidas sobre o impacto de uma política de segurança pública fracassada, que não prioriza a vida da população. Tivemos um aumento de 47% no número de mortes”, reflete Cecília Oliveira, diretora executiva do Instituto Fogo Cruzado. Ela enfatiza ainda que assim como em 2023 a letalidade policial na Bahia por algumas vezes superou os índices do Rio de Janeiro. “O que podemos esperar para este ano que mal começou?” questiona a diretora. 

Dois babalorixás vítimas da violência armada

Destacam-se, entre os casos emblemáticos gerados pela violência armada durante esse período, as mortes de duas lideranças religiosas.

O babalorixá Cosme Leonardo de Souza foi atingido por tiros dentro de um terreiro no bairro do Arenoso, em Salvador, no dia 11 de janeiro. Familiares relatam que Cosme foi atingido durante uma invasão de agentes da Polícia Militar no terreiro Omideloya, que teriam entrado atirando e agindo com truculência. Já a corporação afirma, em nota, que os agentes teriam sido acionados depois que o líder religioso foi atingido e que teriam prestado socorro à vítima.

Outra vítima da violência armada na capital baiana em janeiro foi o babalorixá Nilton Leal, morto no bairro Barbalho, após participar da tradicional Lavagem do Bonfim.

O perfil da violência armada

Entre as 116 vítimas fatais da violência armada em Salvador e RMS, 112 eram homens e quatro eram mulheres. Entre os 36 feridos, 33 eram homens, dois eram mulheres e um não teve o gênero identificado. Uma das mortes de janeiro, aponta o relatório, foi uma vítima de feminicídio.

Dos 152 atingidos por arma de fogo em janeiro, 71 eram pessoas negras (46%), seis brancas (3,9%), e 75 não tiveram recortes raciais identificados (49%). Em comparação a janeiro de 2023, foram baleadas 22 pessoas negras, duas brancas e 67 pessoas não tiveram recortes raciais identificados. 

Considerando a faixa etária, três adolescentes foram mortos e um ferido; 112 adultos foram mortos e 34 ficaram feridos; um idoso foi morto e uma pessoa ferida não teve a faixa etária identificada.

O município de Madre de Deus, que em janeiro de 2023 não teve registro de tiros na base de dados do Fogo Cruzado, teve este ano quatro tiroteios com cinco baleados: três morreram e dois ficaram feridos.

Entre as vítimas em Madre de Deus, João David Ramos Paim de Andrade, o “Devinho”, um entregador de água mineral, morto com diversos tiros em seu local de trabalho, no dia 8, na localidade da Matriz. No dia seguinte (09/01), dois clientes de um depósito de bebidas no bairro Mirim foram alvos de disparos de arma de fogo. Ricardo Filho veio a óbito, enquanto a outra vítima, conhecida como Buiú, conseguiu sobreviver ao ataque.

O mapa da violência armada
  • Salvador: 124 tiroteios, 80 mortos e 27 feridos
  • Camaçari: 14 tiroteios, 11 mortos e 2 feridos
  • Dias D’ávila: 7 tiroteios e 7 mortos
  • Lauro de Freitas: 6 tiroteios, 4 mortos e 3 feridos
  • Mata de São João: 5 tiroteios e 5 mortos
  • Vera Cruz: 5 tiroteios, 3 morto e 1 ferido
  • Madre de Deus: 4 tiroteio, 3 mortos e 2 feridos
  • Simões Filho: 2 tiroteios, e 2 mortos
  • Itaparica: 1 tiroteio, 1 morto e 1 ferido

Entre os bairro mais afetados pela violência armada estão:

  • Engenho Velho da Federação (Salvador): 11 tiroteios, 3 mortos e 2 feridos
  • Liberdade (Salvador): 7 tiroteios, 4 mortos e 4 feridos
  • Boca do Rio (Salvador): 5 tiroteios e 5 mortos
  • Federação (Salvador): 5 tiroteios, 3 mortos e 2 feridos
  • Valéria (Salvador): 5 tiroteios, 3 mortos e 1 ferido
  • Vila de Abrantes (Camaçari): 3 tiroteios e 2 mortos
  • Parque Petrópolis (Dias D’ávila): 3 tiroteios e 2 mortos
Sobre o Fogo Cruzado 

O Fogo Cruzado é um Instituto que utiliza tecnologia para produzir e divulgar dados abertos e colaborativos sobre violência armada. O laboratório de dados da instituição produz mais de 40 indicadores inéditos sobre violência nas regiões metropolitanas do Rio, do Recife, de Salvador e de Belém.Através de um aplicativo de celular, o Fogo Cruzado obtém e disponibiliza informações sobre tiroteios, verificados em tempo real. Se trata do único banco de dados aberto sobre violência armada da América Latina, que pode ser acessado gratuitamente pela API do Instituto.

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