Por Elizabeth Souza
Na última terça-feira (26), Brasília (DF) foi palco de um momento histórico e significativo para as mulheres negras do Brasil. A inauguração do Escritório Operativo da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, que reuniu lideranças, autoridades governamentais, ativistas e mulheres de diversas regiões do país em uma noite de cerimônia e celebração. O evento simboliza a união de forças e a ampliação da chamada rumo à 2ª Marcha Nacional de Mulheres Negras, que acontecerá dia 25 de novembro de 2025, na capital federal.
A noite de lançamento aconteceu no Anexo do Museu Nacional da República e marcou não apenas a formalização de um espaço de organização e mobilização, mas também a ampliação das vozes de mulheres negras do Brasil no combate ao racismo, sexismo e outras formas de opressão.
“Queremos habitar outros territórios, fabular futuros possíveis para nossa gente e ampliar a participação política das mulheres negras no Brasil”, afirmou Janira Sodré, integrante do Comitê Nacional da Marcha e da Articulação de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB).
Tendo a 1ª edição realizada em novembro de 2015, quando reuniu cerca de 100 mil mulheres em Brasília, a Marcha das Mulheres Negras é uma referência nacional, e agora aponta para a sua segunda edição, 10 anos após a primeira. O objetivo, desta vez, é reunir 1 milhão de mulheres negras na capital federal, como destaca Naiara Leite, que também coordena o comitê nacional e o Odara – Instituto da Mulher Negra.
“A marcha é um chamado para a gente radicalizar na luta contra o racismo nesse país. Estamos há um ano do dia 25 de novembro de 2025. Vamos ser um 1 milhão de mulheres negras. Eu não tenho dúvida!”, disse frisando que essa é a oportunidade de “mostrar ao mundo o nosso projeto de Reparação e Bem Viver”. Ponto de vista também partilhado por Vinólia Andrade, liderança do grupo Mulheres Negras Mãe Andresa, do Maranhão, e da Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB).
“Cada uma de nós temos a responsabilidade de impulsionar a participação das mulheres negras na Marcha em 2025”, disse durante a apresentação das integrantes do Comitê Impulsor Nacional.
Rumo à Marcha
A noite de inauguração começou de forma emocionante e carregada de espiritualidade. Mãe Carmem Sheila, do Fórum Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional dos Povos de Matriz Africana, realizou uma saudação especial aos Orixás, trazendo bênçãos e energias positivas para o evento.
Ao longo da cerimônia, foram apresentados os grupos que coordenam a Marcha, bem como pessoas aliadas do campo da filantropia, como: Maíra Junqueira, da Fundação Ford; Nina Madsen, da Open Society Foundations; Luana Reis, do Imaginarius; Caroline Almeida e Tainá Medeiros, do Fundo Baobá; Juliana Maia, Mohara Vale e Tássia Mendonça, do Ibirapitanga.
“Estarmos aqui, podendo construir essa agenda é resultado da Marcha de 2015, temos só a agradecer e reforçar nosso compromisso e dizer que também estamos em marcha”, frisou Tássia Mendonça, gerente de Programa – Equidade Racial, do Instituto Ibirapitanga.
O evento também contou com a presença de autoridades republicanas: a secretária Nacional no Ministério das Mulheres, Fátima Cleide, que representou a titular da pasta, a ministra, Cida Gonçalves; e a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco.
“Sei que essa marcha será um sucesso muito maior. Nossa ancestralidade é quem nos traz até aqui e quem nos conduzirá”, ressaltou Fátima Cleide.
A ministra Anielle Franco reforçou a importância da Marcha. “Quando eu perdi a Marielle jurei a mim mesma que aquele sangue seria honrado. Enquanto tiver sangue correndo em nossas veias e condição de luta, estaremos aqui. Nós, mulheres negras, estamos mais do que prontas. Vou estar marchando junto junto, passo a passo, com vocês.”
Durante a ocasião, a presença das griôs Lydia Garcia, 86 anos, e Jacira da Silva, 73 anos, abrilhantaram o evento. Jacira da Silva é a primeira mulher negra a ocupar o cargo de presidente do Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal, nos anos de 1995 a 1998, e fundou a Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira/DF). “A Marcha de Mulheres Negras não é um evento, é um marco histórico das nossas vidas, das nossas sabedorias e vivências”, disse. Em seguida, Lygia Garcia, primeira professora negra de música do DF, relembrou a construção da marcha de 2015 mencionando a força da mulher negra através de um dos irreverentes poemas de Maya Angelou, “Ainda assim eu me levanto”.
A noite também foi embalada por muita música com a presença da Dj Odara Kadiegi e uma belíssima apresentação voz e violão por Liz, artista da Casa Dengo e da Black Monster.
Comitê
A presença de representantes de movimentos sociais e de diversas entidades foi uma demonstração clara da força e da união que caracteriza a militância e ativismo que permeia o Comitê Impulsor da 2ª Marcha Nacional de Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver.
O Comitê é composto por:
- Articulação Nacional de Psicólogas/os Negros/as e Pesquisadoras/es em Relações Étnico-Raciais – ANPSINEP
- Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB)
- Candaces – Rede Nacional de Lésbicas e Mulheres Bissexuais Feministas Negras
- Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (CONAQ)
- Fórum Nacional de Mulheres Negras
- FONATRANS – Fórum Nacional de Travestis e Transexuais Negras e Negros
- FONSANPOTMA – Fórum Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional dos Povos de Matriz Africana
- Mulheres de Terreiro – Delegadas no III Egbé
- Rede de Mulheres Negras do Nordeste
- Rede Fulanas – Negras da Amazônia Brasileira
- Rede Nacional de Mulheres Negras no Combate à Violência