3ª edição da Marcha Incomode reúne movimentos sociais para protestar contra encarceramento e extermínio da juventude negra

Nesta segunda-feira (20) aconteceu a 3ª Marcha Incomode: Contra o Genocídio e o extermínio, a LGBTfobia, o feminicídio, o ódio religioso e o encarceramento em massa da Juventude Negra.

Caminhada aconteceu na tarde desta segunda-feira (20) no Subúrbio Ferroviário e contou com a presença de representantes de movimentos sociais, políticos, grupos culturais e comunitários

Por Andressa Franco e Patrícia Rosa

Imagem: Patrícia Rosa

Nesta segunda-feira (20) aconteceu a 3ª Marcha Incomode: Contra o Genocídio e o extermínio, a LGBTfobia, o feminicídio, o ódio religioso e o encarceramento em massa da Juventude Negra.

O tempo chuvoso não intimidou o grupo, que se reuniu na Praça do Lobato, no Subúrbio Ferroviário de Salvador (BA). Os participantes marcharam em direção ao Parque São Bartolomeu, bairro de Plataforma, também conhecido como Quilombo do Urubu.  

A ação é organizada pelo Coletivo Incomode, articulação política composta por grupos, movimentos e organizações sociais que atuam no Subúrbio Ferroviário de Salvador. O objetivo é chamar atenção da população para as violências praticadas contra jovens negros e negras na Bahia e no Brasil. Durante a concentração estiveram presentes representantes de movimentos sociais, políticos, grupos culturais e comunitários.

A primeira edição da Marcha aconteceu em 2017 e a segunda em 2019. Depois de dois anos sem realizar o encontro devido à pandemia de covid-19, Nadjane Cristina, 28 anos, afirma que a retomada chama atenção para as chacinas realizadas pela polícia durante esse período.

“Sobretudo a chacina da Gamboa e o descaso em relação à ela. Estamos aqui para dizer que depois de ter passado por um período isolamento social, onde cresceu o feminicídio e a violência policial, a gente está voltando à ativa e vai incomodar o Estado”, declara uma das integrantes da articulação do Coletivo Incomode.

Integrante do CIPÓ – Comunicação Interativa, Dênis Silva, 31 anos, é morador do Nordeste de Amaralina, esteve presente nas edições anteriores da marcha e marcou presença mais uma vez. “O que me faz vir aqui é saber que a gente está reunido em prol de uma ação. Acho que a comunidade de Salvador como um todo deveria estar aqui, não somente o pessoal do Lobato. Eu moro em bairro periférico e passo pela mesma vivência que eles passam aqui”.

Imagem: Patrícia Rosa
Bahia é o segundo estado com maior taxa de homicídios de jovens

A Marcha também marca o Dia municipal e estadual de Luta Contra o Encarceramento da Juventude Negra (Salvador e Bahia, respectivamente).

Em 2019, em média, 64 jovens foram assassinados por dia no Brasil, segundo dados do Atlas da Violência 2019, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Ao todo 23.327 jovens tiveram suas vidas ceifadas como conta o último levantamento do Atlas. Esse número representa uma taxa de 45,8 homicídios para cada 100 mil jovens no país.

A Bahia é o segundo estado com maior taxa de homicídios de jovens, segundo o levantamento. O estado registrou um total de 97 homicídios para cada 100 mil jovens, mais do que o dobro da média nacional. Ainda segundo o Atlas, em 2019, 77% das vítimas de homicídios no Brasil forampessoas negras. Na Bahia, esse número chega a 94%.

Para o vereador de Feira de Santana (BA) Jhonatas Monteiro (PSOL), presente na manifestação, a Marcha tem o papel de dar visibilidade à uma política de Estado que tem implicado no sistemático encarceramento e extermínio da juventude negra.

“A Bahia infelizmente ostenta números vergonhosos nesse sentido. Então desde que o 20 de junho foi aprovado na Assembleia Legislativa como um marco de referência simbólico dessa luta, a marcha cumpre um papel ainda mais significativo”, pontua o parlamentar.

Também estiveram presentes vereadoras(es) da capital baiana, como Laina Crisóstomo, da mandata coletiva Pretas por Salvador (PSOL), Maria Mariguella (PT), a socióloga e pré-candidata à deputada federal Vilma Reis (PT) e o deputado estadual Hilton Coelho (PSOL).

Para Laina, é preciso fazer o debate ocupando as ruas, mas também cobrando o poder público sobre como o dinheiro é investido na ‘guerra às droga’. “Precisamos fazer o debate sobre revogação da lei de drogas, descriminalização, mas acima de tudo pela garantia da juventude negra viva. Precisamos de mais políticas públicas, não de mais presídio”, destaca a vereadora. “Essa marcha é um guia para descentralização do debate, é sair do Campo Grande e vir para a Suburbana para fazer uma ocupação a partir de outra narrativa”, complementa.

O número de homicídios entre as mulheres no Brasil também se mostrou expressiva, revela o Atlas da Violência 2021. São cerca de 10 assassinatos por dia. Ao todo, 3.737 mulheres foram mortas em 2019. A questão racial também é preponderante aqui: as mulheres negras representam 66% de todas as mulheres assassinadas no País. O risco de uma mulher negra ser morta é 1,7 vezes maior do que uma mulher não negra. 

Jovens e negros são também maioria entre a população carcerária no Brasil, que em 2016 chegou a um total de 726,7 mil, segundo dados do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen). Mais da metade desse segmento era formado por jovens de 18 a 29 anos e 64% do total eram negras.

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