Da Redação
Três homens negros entraram com uma ação federal contra a companhia aérea americana American Airlines na última quarta-feira (29). Eles afirmam terem sofrido “discriminação racial flagrante e grosseira” por comissários de bordo que lhes deram ordem de desembarque do voo 832, que ia de Phoenix para Nova York, nos Estados Unidos, devido a reclamações de um cheiro forte de odor corporal.
Xavier Veal, Emmanuel Jean Joseph e Alvin Jackson contam que eles e outros cinco passageiros negros foram desembarcados por funcionários da empresa devido a queixas de mau cheiro. Eles contam que só souberam o motivo do desembarque depois, quando um representante da companhia mencionou a reclamação de um comissário de bordo sobre o odor corporal de um passageiro não identificado.
O caso aconteceu em janeiro, e o processo foi registrado no Distrito Leste de Nova York.
“O que aconteceu conosco foi errado. Imagine um comissário de bordo ordenando que todas as pessoas brancas saíssem de um avião por causa de uma reclamação sobre uma pessoa branca. Isso nunca aconteceria. Mas foi isso que aconteceu conosco. Não há outra explicação além da cor da nossa pele”, declararam em um comunicado conjunto divulgado pelo escritório de advocacia Outten & Golden LLP.
As vítimas não se conheciam antes do incidente. Mas na retirada de bagagem, depois de pousar, Veal fez contato com Joseph, que é ator, e com Jackson, que é músico, ambos do Brooklyn. Eles não encontraram os outros cinco homens que foram expulsos com eles.
De acordo com o processo protocolado, quando os homens alegaram que estavam sendo vítimas de racismo, um funcionário da companhia teria concordado. A resposta dele foi verificada por uma gravação de celular acessada pelo jornal Washington Post. Nela, um dos homens diz que a remoção deles foi discriminatória e é possível ouvir um funcionário dizendo: “Eu não discordo de você.”
Como não encontraram outros voos disponíveis da American Airlines para voltar para casa, os homens foram autorizados a reembarcar no voo original.
Segundo os relatos reunidos na denúncia, o voo foi atrasado por pelo menos uma hora nesse processo. Eles “tiveram que reembarcar no avião e suportar os olhares dos passageiros majoritariamente brancos que os viam como a causa do grande atraso”, dizia o processo.
“Infelizmente, sou um homem negro e vivo na América. Isso te faz despertar para a realidade de que não posso simplesmente ir à loja; não posso simplesmente fazer coisas normais como pegar um avião para casa”, declarou Veal, que trabalha como assistente de produção, ao Washington Post.
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Além de indenizações por danos morais e os honorários dos advogados, a ação judicial pede medidas punitivas por “conduta maliciosa intencional e imprudente” para “dissuadir a American de discriminar passageiros negros no futuro”.
A empresa se pronunciou ao Washington Post, afirmando que levam as alegações de discriminação a sério. “Nossas equipes estão atualmente investigando o assunto, pois as alegações não refletem nossos valores fundamentais.”
Essa não é a primeira acusação de racismo contra a American Airlines
Essa não é a primeira vez que a American Airlines é acusada de discriminação racial.
Em histórico resgatado pela imprensa norte-americana, uma juíza negra de Chicago, já aposentada, apresentou em abril uma queixa contra a companhia afirmando ter sido impedida de usar o banheiro da primeira classe durante um voo, ainda que tivesse comprado uma passagem para o setor.
No ano passado, a velocista Sha’Carri Richardson contou em suas redes sociais que foi retirada de um avião por supostamente ter importunado um comissário. Já o músico David Ryan Harris relatou que foi considerado suspeito de tráfico de crianças enquanto viajava com seus filhos birraciais.
Em 2020, Aubrey Kelly e Elgin Banks também processaram a American Airlines por discriminação.
Em 2017, a National Association for the Advancement of Colored People (NAACP), em português, Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor, uma das mais antigas e influentes organizações em defesa dos direitos civis, pediu a viajantes negros que não voassem com a American Airlines, devido a uma série de supostos incidentes de cunho racial. A associação chegou a retirar a orientação depois que a companhia concordou em atualizar suas políticas e treinar funcionários contra práticas racistas.