Polícia conclui que não houve racismo na abordagem policial aos adolescentes filhos de diplomatas no Rio de Janeiro

O caso foi encaminhado para o Ministério Público, e a família pretende seguir com o processo até a última instância.

Da Redação

A Delegacia Especial de Atendimento ao Turista (Deat) concluiu na última sexta-feira (9) que não houve racismo na abordagem policial aos três jovens negros filhos de diplomatas, que aconteceu em julho deste ano, em Ipanema, no Rio de Janeiro (RJ). De acordo com o inquérito, não foi constatado o crime de injúria racial. 

Os adolescentes estavam caminhando em uma calçada na rua Prudente de Moraes, em Ipanema, quando foram abordados pelos agentes, que apontavam armas em sua direção.

Um deles, de 14 anos, é filho de uma assistente do embaixador do Canadá no Brasil, os outros dois são filhos dos embaixadores do Gabão e de Burkina Faso. Eles estavam com dois brasileiros brancos. Na época, um deles relatou que a abordagem foi mais truculenta com os amigos negros, e que um deles chegou a se machucar pela forma como foi prensado na parede.

O relatório, assinado pela delegada Danielle Bulus Araújo, declara que os depoimentos dos adolescentes confirmaram que não houve palavras ofensivas, xingamentos ou qualquer fala com conotação racial ou discriminatória por parte dos policiais. 

O documento também afirma que os policiais teriam agido da mesma forma com os quatro jovens. “Na abordagem não houve tratamento diferenciado e todos foram revistados, sem distinção de cor. O relatório final do inquérito conclui que, do que se depreende das imagens obtidas e dos depoimentos prestados, não houve dolo do crime de injúria racial, modalidade típica do crime de racismo ou do próprio crime de racismo.”

O momento foi registrado pelas câmeras de segurança do prédio pelo qual estavam passando em frente no momento. A mãe de um dos jovens negros, Raiana Rondhon, denunciou o caso nas redes sociais. Ela contou que os meninos estavam voltando para casa por volta das 19h, quando foram parados pelos policiais sem questionamento prévio. “Com arma na cabeça e sem entender nada, foram violentados, obrigados a tirar casacos”, descreveu.

A justificativa dos PMs para a abordagem, foi de que um turista estrangeiro havia os abordado pouco tempo antes informando ter sido assaltado e descreveu a aparência dos suspeitos. O inquérito argumenta ainda que os agentes “não elegeram suspeitos com base na cor da pele” porque estavam procurando suspeitos com base na descrição das vítimas de um assalto na praia de Ipanema.

Caso foi encaminhado ao Ministério Público

A advogada Raquel Fuzaro, que acompanhou os jovens nos depoimentos à Polícia Civil, disse que as famílias receberam as conclusões da investigação com “surpresa e indignação”, e que as crianças sofreram com uma “revitimação”.

Segundo ela, as imagens registradas pela câmara de segurança do prédio revelam que o menino branco não foi alvo da ação violenta. “O menino branco que estava junto com os outros entrou no prédio, sem que os policiais sequer falem com ele, enquanto os amigos negros foram abordados de forma violenta e arma na cabeça. Difícil um relatório que não vê o que está explícito: abordagem discriminatória por perfilamento racial.”

A mãe de um dos adolescentes criticou o relatório, ponderando que “o racismo vai muito além de proferir palavras racistas”. Segundo ela, os policiais orientaram os adolescentes a não saírem mais após a revista, porque poderiam ser alvos de nova abordagem. O caso foi encaminhado para o Ministério Público, e a família pretende seguir com o processo até a última instância.

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