Ex-Cônsul da França na Bahia processa francês por racismo e assédio moral

O autor das ofensas foi o também francês Fabien Liquori, que enviou mensagens ofensivas para Mamadou

Por Patrícia Rosa

Tramita no Tribunal de Justiça da Bahia uma ação movida por Mamadou Gaye, ex-cônsul honorário da França na Bahia, contra o também francês Fabien Liquori. Segundo Gaye, em março de 2023, o consulado recebeu uma solicitação de suporte para questões administrativas feitas por Fabien. Porém, diante da impossibilidade de atender seus pedidos pessoais conforme desejado, Liquori passou a enviar e-mails ofensivos ao ex-cônsul, chamando-o de “tirano africano” e afirmando que ele deveria “voltar para seu buraquinho em Paris”.

A vítima entrou com uma ação por danos morais, injúria racial, assédio moral e calúnia. Mamadou, que mora em Salvador (BA), é de origem senegalesa e naturalizado francês e atuou no Consulado entre os anos de 2019 e 2024. 

“A pessoa começou a me procurar em 2021. Ele estava me pedindo várias coisas. Eu falei a ele qual era o limite das minhas competências, ele estava precisando entrar com o órgão lá na França, e eu expliquei que ele teria que se virar, porque tem algumas coisas que o consulado auxilia e outras que os próprios cidadãos têm que entrar em contato”, afirmou Mamadou.

Com a negativa da possibilidade do atendimento do serviço, os insultos começaram a ser encaminhados por e-mail, onde o requerente encaminhou as mensagens copiadas para diferentes pessoas, órgãos e instituições. Entre elas estão o Consulado Geral da França, o Consulado Geral da França em Recife e membros da Universidade Federal da Bahia, onde Gaye cursa o doutorado.

Em meio às mensagens, Fabien chama Mamadou de “tirano africano” e expressa o desejo de que o mesmo voltasse para “seu buraquinho em Paris”.

“Primeiro ele mandou falando que eu não sou competente, que não deveria estar lá nesse lugar. Eu logo avisei ele para tomar cuidado, para que ele parasse com isso. E ele não parou, e falou mal de mim, ‘essa pessoa não presta’,  e dizendo, ‘volta para o seu buraco parisiense’. Passou um tempo, eu acionei um advogado”, explicou Mamadou.

Fabien Liquori foi alvo de denúncia policial. Todas as mensagens ofensivas foram incluídas no processo. Após julgamento em primeira instância, a justiça determinou em dezembro do ano passado, o pagamento de danos morais no valor de R$3 mil, quantia considerada irrisória por Mamadou, que decidiu seguir com o processo reivindicando retratação pública.

O pleito na segunda instância por dano moral era de R$ 40 mil reais, além de novo pedido de retratação pública. 

“Qual é o preço do racismo? Independente do valor, a dor é ver que, mais uma vez, a justiça minimizou a situação. O dano foi público, a injúria foi pública. A retratação precisa ser pública também, por uma questão, sobretudo, educativa”, argumenta.

Gaye acrescenta que entrará com uma ação no Ministério Público. Ele destaca a importância de garantir a justiça e de dar visibilidade aos casos de racismo, reforçando que a divulgação desses episódios pode ampliar o debate na sociedade e conscientizar sobre as diversas formas que o racismo se manifesta.

A Revista Afirmativa buscou contato com  Fabien Liquori, mas não houve retorno até a publicação desta matéria. O Tribunal de Justiça do Estado da Bahia também foi contactado, mas não houve resposta.

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