91% dos consumidores negros das classes A e B já foram alvo de racismo em estabelecimentos de luxo, revela estudo

A pesquisa Afroluxo mostra também que um a cada cinco clientes negros das classes A e B negros foram seguidos ou tiveram sua bolsa revistada ou lacrada

Por Karla Souza

A população negra responde por 40% do Produto Interno Bruto Brasileiro, mas apenas 19% dos negros pertencem à classe A/B, enquanto 52% estão na classe C e 29% nas classes D/E. Mesmo com seu impacto na economia, consumidores negros continuam enfrentando barreiras de acesso e discriminação em estabelecimentos, sobretudo em locais de luxo. Episódios de racismo em shoppings e em lojas de marcas como Zara, Sephora e Louis Vuitton já ganharam destaque na mídia, evidenciando a persistência de discriminação racial nesses espaços.

Uma pesquisa realizada pela empresa L’Oréal, em parceria com o Estúdio Nina, revela que nove em cada dez consumidores negros das classes A e B já sofreram racismo em estabelecimentos de luxo no Brasil. O estudo Afroluxo – Racismo no Varejo de Beleza de Luxo investigou as dinâmicas de exclusão nesses espaços e identificou um padrão de discriminação que afeta diretamente a experiência de compra da população negra.

O levantamento entrevistou 350 consumidores negros e utilizou diversas metodologias, como simulações de compra, entrevistas qualitativas e quantitativas. Os resultados apontam que 91% dos participantes já foram vítimas de racismo em estabelecimentos de luxo, enquanto 71% sentem desconforto permanente neste tipo de ambiente. Entre os entrevistados, 18% relataram ter sido seguidos, revistados ou obrigados a lacrar suas bolsas. Além disso, 56% afirmam sentir que não pertencem ao local e 58% disseram que, antes mesmo de perguntar, os vendedores já informavam o preço dos produtos.

Ana Carla Carneiro, cofundadora do Estúdio Nina, relatou ao veículo O Globo que as marcas precisam rever suas práticas para além da criação de produtos voltados para a população negra. O racismo presente no varejo afasta consumidores e impacta diretamente as vendas, destaca a pesquisa. O estudo aponta que 52% das pessoas negras que passam por situações de discriminação desistem da compra no ponto de venda, 54% deixam de retornar ao estabelecimento e 29% optam por realizar a compra on-line.

A pesquisa identificou 21 dispositivos de exclusão nos estabelecimentos analisados. Entre os mais recorrentes, estão a vigilância excessiva e o tratamento diferenciado. Dos entrevistados, 74% disseram sentir-se observados de maneira invasiva, enquanto 57% afirmaram que os atendentes duvidavam de sua capacidade de pagamento. Outra prática comum relatada por 47% dos clientes negros foi a suposição de que eram funcionários das lojas, e não consumidores.

“Por mais que você esteja com perfume de marca, que tenha roupa de marca, que esteja em um lugar de pessoas com condições financeiras, sempre vai ter um questionamento: que, talvez, seja um jogador desconhecido; que talvez seja uma pessoa que tem dinheiro, mas que não é necessariamente um como nós. […] Sempre vai ter o questionamento”, relata um dos entrevistados, de acordo com o estudo.

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