Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Assassinato de artista por funcionário de supermercado em Santo André (SP) expõe padrão de insegurança vivida por jovens negros

Felipe Moraes Oliveira, de 29 anos, saiu de casa para comprar pão, mas foi impedido pelo segurança de entrar no mercado por estar com sua cadela de estimação

Por Luana Miranda

Ser uma pessoa negra no Brasil é estar em constante vigilância. Cada passo, cada movimento pode ser lido como uma ameaça, um erro grave o suficiente para justificar o nosso assassinato. Faz duas semanas que estamos mais uma vez lidando com a indignação e o medo causado pela constante banalização das nossas vidas. Há duas semanas, Felipe Moraes Oliveira, de 29 anos, foi morto a tiros por um funcionário do Supermercado Loyola, no município de Santo André, em São Paulo. 

O crime aconteceu numa terça-feira, 26 de agosto. Mas também no dia 26 de abril de 2022, no supermercado Atakarejo, em Salvador (BA), e no dia 19 de novembro de 2020, no Carrefour, em Porto Alegre (RS). A verdade é que esse crime continua acontecendo todos os dias em nosso país. É o ciclo vicioso do racismo que insiste em nos assolar.

Felipe, jovem negro, multiartista, foi ao mercado pela manhã para comprar pão e levou Zuri, sua cadela de estimação. De acordo com as informações divulgadas pela imprensa, a discussão que supostamente motivou o crime teria começado após o segurança do estabelecimento tentar impedir a entrada do jovem com o animal.

O vídeo feito pelas câmeras de segurança do estabelecimento mostra Felipe em pé, próximo ao caixa segurando Zuri, enquanto acontece a discussão com o funcionário. Em seguida, o artista levanta a camisa para mostrar que não está armado. A tensão continua e então o funcionário o empurra, um outro homem aparece na cena para separar, Felipe reage à violência sofrida e tenta dar um chute no seu agressor, que desfere um tiro fatal que o atinge na barriga.

De acordo com o Portal G1, após ser atingido, o jovem levantou e saiu para prender Zuri em um local próximo, na tentativa de deixá-la em segurança. Na sequência, foi pedir ajuda em uma farmácia, na rua vizinha. Felipe não resistiu ao ferimento e morreu no local antes da chegada da Polícia Militar. Zuri foi resgatada por familiares da vítima após o crime.

O assassino fugiu do local, em seguida se apresentou em uma delegacia próxima e deve cumprir prisão preventiva por 30 dias, decretada pela Justiça. O crime foi registrado no Setor de Homicídios e Proteção à Pessoa de Santo André como “homicídio consumado” – morte decorrida de uma agressão – e segue em investigação.

No mercado, não havia placas sinalizando o impedimento da entrada de animais de estimação, como apontou a família de Felipe. Ele foi mais uma vítima fatal do racismo que transformou a ida de um homem negro ao mercado em um ato perigoso, que pode ter como consequência uma morte violenta.

Imagem: Reprodução das Redes Sociais

Ao ser procurada pelo Metrópoles, a Secretaria de Segurança Pública afirmou que o funcionário “não possui qualquer vínculo com nenhuma força de segurança”, informação contrária à divulgada pela família e amigos da vítima no perfil do Instagram criado para “reivindicar o direito à narrativa verdadeira”. Segundo eles, o assassino de Felipe era um policial que fazia bico de segurança no local.

A Bancada Feminista do PSOL protocolou, junto ao Ministério Público (MP), um pedido de investigação do crime que vitimou Felipe e o fechamento do supermercado Loyola.

“Mercado da morte”

Assim como infelizmente ocorre em muitas famílias negras brasileiras, a dor pela perda de um filho, um esposo ou um amigo nunca será apagada. A luta pela justiça e reparação se torna o único caminho para encontrar o mínimo de conforto. No caso do assassinato de Bruno Barros da Silva, de 29 anos, e de Yan Barros da Silva, de 19 anos, além da prisão dos responsáveis, a rede de supermercados Atakarejo foi condenada a pagar R$20 milhões de indenização por danos morais coletivos que foram revertidos em medidas de combate ao racismo.

Já no crime de assassinato de João Alberto Silveira Freitas, morto por espacamento no estacionamento do Carrefour, dos seis réus envolvidos, dois estão presos preventivamente, um está preso em domicílio e os outros três aguardam o julgamento em liberdade. O processo tramita em sigilo e, atualmente, passa por fase de recurso sem data marcada para o júri popular. O Carrefour firmou um termo de ajustamento de conduta (TAC), destinando R$115 milhões para políticas de combate ao racismo.

Que a justiça por Felipe Moraes Oliveira seja feita e que todos os responsáveis sejam penalizados. O racismo no Brasil precisa ser combatido em todas as instâncias, pois está impregnado em todas as áreas da vida cotidiana. Também é imprescindível que não esqueçamos das vítimas e de suas famílias, que carregaram o peso de lidar com a dor e com o desamparo.

Compartilhar:

.

.
.
.
.

plugins premium WordPress