Grupos bolsonaristas têm recorrido a fake news para alegar que os protestos foram pacíficos, e o vandalismo foi provocador por “infiltrados”
Por Andressa Franco
Desde que a intervenção federal decretada pelo presidente Lula (PT) deu início às prisões dos golpistas que invadiram e depredaram os prédios institucionais da Praça dos Três Poderes em Brasília, grupos bolsonaristas têm espalhado fake news em uma tentativa de se desvincular dos crimes cometidos.
Uma das principais estratégias tem sido responsabilizar “infiltrados da esquerda” pelos atos de vandalismo cometidos no último domingo (8). A prática é habitual do grupo, e largamente utilizada pela extrema direita. Até o momento, cerca de 1.500 pessoas já foram detidas, e os acampamentos golpistas instalados em todo país foram desmontados.
Uma das mentiras espalhadas teve como alvo o ativista Raull Santiago, que denunciou o caso na noite da última segunda-feira (9) em suas redes sociais. Santiago compartilhou prints de conversas que o apontam como infiltrado nas ações de vandalismo em Brasília.
As imagens divulgadas pelos bolsonaristas mostram o ativista com amigos no Complexo do Alemão (RJ) onde vive e atua como gestor de diversos projetos sociais; em fotos com o presidente Lula; e destacando o boné com as iniciais CPX, que significam “Complexo”. O adereço viralizou durante a campanha eleitoral, quando Lula utilizou o boné em uma visita ao Complexo do Alemão e foi atacado por apoiadores do ex-presidente Bolsonaro, que também espalharam notícias falsas a respeito do significado do boné.
A legenda dos prints diz: “Olha isso galera, entrou pelos fundos lá em Brasília com mais uns 15 e adivinha que foram fazer lá?”. Outras imagens mostram alguns dos bolsonaristas mascarados dentro dos prédios, cuja identidade é atribuída a Santiago: “Foi tudo planejado! Ajudem a divulgar os infiltrados! Senão nós vamos perder a batalha!”.
Em suas redes sociais, o gestor de projetos sociais afirmou que durante os atos terroristas, ele recebia um ONG de São Paulo no Complexo do Alemão. “Mas as fakes com frases racistas que me colocam como puxador dos atos terroristas que os bolsonazistas fizeram, segue crescente e em alta velocidade”, destacou.
Máquina de fake news
Ainda na noite desta segunda-feira (9), o ativista aproveitou para denunciar outra fake news que tem repercutido, e um de seus veiculadores, o pastor Ricardo Martins, que conta com mais de 150 mil seguidores. A notícia falsa diz que uma senhora de 77 anos, supostamente detida entre os terroristas, havia morrido após passar mal no ginásio em Brasília onde estão sendo mantidos esperando para prestar depoimento.
A foto, na verdade, foi retirada de um banco de imagens gratuito da internet. E a própria Polícia Federal desmentiu o boato. “A Polícia Federal informa que é falsa a informação de que uma mulher idosa teria morrido na data de hoje (9/1) nas dependências da Academia Nacional de Polícia”, declarou a instituição em nota. A deputada federal Bia Kicis (PL-DF) foi uma das responsáveis por espalhar a mentira no plenário da Câmara, chegando a dizer que o caso havia sido confirmado pela Ordem dos Advogados do Brasil no DF (OAB-DF).
O pastor Ricardo Martins tem publicado vídeos aparentemente enviados pelas pessoas detidas no ginásio. Em uma dessas filmagens, ele afirma, sem provas, que duas pessoas já morreram no alojamento, e que os manifestantes estão sendo mantidos presos “sem qualquer estrutura básica de apoio”.
Movimentos de denúncia
O Secretário Nacional de Justiça Augusto de Arruda Botelho informou em seu perfil no Twitter que o Ministério da Justiça criou um canal para denúncias. Quem tiver informações sobre os terroristas que atentaram contra a democracia, pode fazer contato através do e-mail denuncia@mj.gov.br. O canal já recebeu milhares de contatos.
Outra ferramenta que tem acumulado denúncias, é o perfil do Instagram “Contragolpe Brasil”, que tem exposto os rostos dos criminosos que desembarcaram em Brasília, a partir de vídeos feitos e publicados pelos próprios. A página já conta com 1,1 milhão de seguidores e reúne quase 200 publicações. São revelados não apenas os rostos das pessoas, mas seus nomes, cidades e estados, são apontados ainda supostos articuladores e também financiadores dos ataques.
Nesta segunda-feira (9), o perfil relatou dificuldades com o Instagram para continuar com o trabalho de identificação. Isso porque a rede social tem acusado o perfil de ferir as normas da plataforma, e impedido, segundo os administradores do perfil, de responder mensagens e escrever legendas.