Carminha é a primeira mulher alagoana a ser maratonista e ultramaratonista com mais de 60 anos, e está na Colômbia participando das provas do Sul-Americano de Atletismo Máster
Por Andressa Franco
Imagem: Arquivo Pessoal
Desde o último domingo (20), a capital da Colômbia, Bogotá, tem sido o palco do Sul-Americano de Atletismo Máster, que vai até o dia 27 de novembro. Ao todo, são 24 países competindo em provas de 3.000 metros, 5.000 metros, 10.000 metros, Cross Country, e Meia Maratona (21 km).
Aos 64 anos, Maria do Carmo Cruz da Hora, conhecida como Carminha, é uma das atletas representando o Brasil no campeonato. Nordestina nascida em Pernambuco, vive em Alagoas desde bebê, onde construiu uma família. Ela é casada, mãe de dois filhos e avó de seis netos.
O esporte entrou em sua vida aos 60 anos, quando soube de uma corrida de rua promovida pelo Colégio Sagrada Família, na sua cidade, Arapiraca (AL). “Eu me inscrevi para fazer 2 km andando, mas quando vi aquela multidão correndo aquilo me encantou e fui correr também. Corria um pouco, andava, e assim consegui concluir.”, relata a maratonista, que logo na sequência se inscreveu para outra corrida, dessa vez de 9 km, “mesmo com minhas dificuldades, consegui concluir. De lá para cá nunca mais parei e hoje sou apaixonada por corrida de rua”.
Assim, Carminha se tornou a primeira mulher alagoana a ser maratonista e ultramaratonista com mais de 60 anos e também é campeã brasileira de atletismo Master f 60. Além de ter conquistado dezenas de troféus e mais de 200 medalhas participando de centenas de corridas de média e longa distância;
Mas, não bastava competir, Carminha queria uma marca registrada, algo para “mostrar a força da mulher nordestina, o quanto somos guerreiras aqui no Brasil”. Assim, adotou o gibão e o chapéu de couro em todas as disputas que participa. Quando chega nos lugares para correr e não leva, a cobrança é certa. “Eu sou a atleta que é reconhecida como a corredora do chapéu de couro e sinto muito orgulho por isso. Sou negra, nordestina e idosa. Isso me enche de felicidade e de orgulho.”
Carminha acumula uma diversidade de experiências: é técnica de enfermagem, foi vocalista de uma banda de forró, e também radialista da Rádio Cultura. Hoje, conta orgulhosa que é a primeira mulher maratonista, ultramaratonista. Sua primeira prova do gênero aconteceu em João pessoa (PB), na lV Copa Brasil de atletismo máster, em maio deste ano. Na segunda vez competindo, a viagem foi para Florianópolis (SC), em setembro desse ano.
O que hoje é motivo de orgulho, no início, para a família da maratonista, era motivo de preocupação, devido às viagens para fora do estado. “Por ser idosa, hipertensa, sem conhecer muito lá fora, a minha família fica preocupada de eu sair daqui da minha terrinha. Mas aos pouco eles foram pegando confiança no que eu estava fazendo e vendo minhas conquistas, hoje eles me dão um grande suporte.”
Para manter o ritmo e a prática do esporte em sua vida, Carminha tem uma rotina de treino duas vezes por semana em uma academia, e também inclui o descanso como parte essencial da sua agenda de treino. Assim, a alagoana se sente pronta para representar o Brasil na Colômbia, sendo esta a sua primeira viagem internacional.
“Isso me deixa um pouquinho amedrontada e ansiosa, mas confiante de mesmo que eu não vá ao pódio, eu vou dar o melhor de mim.”, até porque, destaca, seu maior objetivo é poder incentivar outras pessoas. “Uma das minhas maiores realizações é quando eu escuto pessoas jovens ou da minha idade dizer que eu sirvo de inspiração e que iniciou atividade física depois que me conheceu. Esse é meu maior prêmio.”
Independentemente do resultado em Bogotá, Carminha já pensa adiante: no dia 31 de dezembro, pretende estar trajada com seu gibão e chapéu de couro em São Paulo pronta para a largada da competição de rua mais famosa do país e a mais importante da América Latina: a Corrida Internacional de São Silvestre, na qual já marcou presença duas vezes.
Em 2019, a nordestina ficou na 38ª posição na classificação geral e em primeiro na categoria para mais de 60 anos, isso apenas seis meses depois de ter participado de sua primeira corrida na vida. “Eu não tinha nenhuma experiência, mas valeu à pena. Da segunda vez, eu tinha participado de outra corrida quatro dias antes, estava muito cansada, mas conseguimos concluir. Esse ano eu espero ficar em colocação bem melhor”, projeta.