Yérsia Assis*
De uma mobilização rápida e eficiente, os coletivos antirracistas da cidade de Amargosa conseguiram e conduziram um Ato importante em favor de justiça para o brutal assassinato de Mãe Bernadete Pacífico. Mãe Bernadete, Yalorixá, Liderança Quilombola, Mãe e Avó. Pude presenciar, no dia 24 de agosto, as ruas do centro de Amargosa ocupadas por mulheres e homens vinculados as diversas entidades e representações sociais: povos de axé, comunidades tradicionais, comunidades do campo, quilombolas, estudantes, docentes da UFRB e classe trabalhadora. O grito de revolta, indignação e clamor por justiça foi unívoco.
Entoando palavras de ordem como “Mãe Bernadete, presente” “Binho do Quilombo, presente” e “Povo negro unido, povo negro forte, que não teme a luta, que não teme a morte!” as ruas amargosenses foram ocupadas, com finalidade de informar a população desta cidade que as organizações negras seguem ativas e presentes também no Vale do Jiquiriçá. Notei assim, que, além de demonstrar uma posição evidente ao tipo de política estabelecida pelo Governo da Bahia ao próprio caso em questão, e também as muitas outras pautas de interesse da população negra baiana. Os Coletivos Antirracistas de Amargosa não pretendem recuar nenhum milímetro. Eu, que estou chegando nesse território, não poderia me sentir mais contemplada, em ver nas ruas a luta acontecendo.
O Ato contou com falas feitas por homens e mulheres de axé, por representante quilombola, e também docentes da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Ainda neste mesmo dia, à noite, a Câmara de Vereadores de Amargosa foi ocupada pelas comunidades de axé do território e região. Numa bonita mobilização, a presença dos povos tradicionais de terreiro no espaço do legislativo municipal se vincula as pautas de manifestações contrárias as ações de intolerância religiosa, mais das vezes vividas por essas comunidades e seus adeptos. Diante disso, vincular e reivindicar novas formas de viver, novas formas políticas, e, sobretudo, modos de abolir as múltiplas violências perpetradas com essas comunidades é buscar honrar o legado de luta, história, e hoje, memória de Mãe Bernadete Pacífico.
De Amargosa, também se ouviu: “Mãe Bernadete, presente!”
Pude ser testemunha disso.
*Preta nagô do Samba de Aboio/Festa de Santa Barbara. Ekedji no Ilê Asè L’odo Omiró. Realizadora Audiovisual. Doutora em Antropologia (UFSC). Professora Adjunta da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.