Banco do Brasil pede perdão pela participação na escravidão e anuncia medidas de combate ao racismo

Segundo historiadores, dados indicam que o BB usufruiu de recursos como a arrecadação de impostos sobre embarcações dedicadas ao tráfico de pessoas escravizadas

Por Andressa Franco

Imagem: Reprodução Contec

A presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros, pediu perdão ao povo negro pela participação da instituição no processo de escravidão no Brasil no século XIX. O pronunciamento foi lido em audiência pública no sábado (18), no Rio de Janeiro (RJ).

A nota divulgada no site da empresa diz que “direta ou indiretamente, toda a sociedade brasileira deveria pedir desculpas ao povo negro por algum tipo de participação naquele momento triste da história. Neste contexto, o Banco do Brasil de hoje pede perdão ao povo negro pelas suas versões predecessoras e trabalha intensamente para enfrentar o racismo estrutural no país. O BB não se furta a aprofundar o conhecimento e encarar a real história das versões anteriores da empresa”.

A atual presidente do Banco é a primeira mulher negra a assumir o cargo desde que o banco foi criado, há mais de 200 anos. Nordestina, negra, lésbica e defensora das causas da comunidade LGBT, Medeiros estava há três anos no cargo de gerente executiva do Banco quando foi nomeada pelo Ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Estudo aponta participação do BB na escravidão

Em setembro, o Ministério Público Federal instaurou inquérito para investigar a relação entre o Banco do Brasil e o tráfico de pessoas negras escravizadas no século XIX. Além disso, o órgão pediu um posicionamento do banco a respeito do assunto.

Segundo historiadores, dados indicam que o BB usufruiu de recursos como a arrecadação de impostos sobre embarcações dedicadas ao tráfico de pessoas escravizadas. Destacam ainda que o investimento para a formação do banco provinha da economia da época, cuja base era a escravização e o tráfico negreiro.

Neste mês de novembro, o banco recebeu um estudo que indicou seu envolvimento no comércio de negros escravizados durante o século XIX. O levantamento foi desenvolvido por 14 pesquisadores de universidades brasileiras e americanas.

Foi esse estudo que provocou a investigação do MPF. De acordo com ele, as relações do banco com recursos provenientes do tráfico de africanos escravizados se aprofundaram após a sua refundação em 1853, depois da abolição do tráfico negreiro no Brasil pela Lei Eusébio de Queirós.

Os estudiosos afirmaram haver “vínculos diretos entre traficantes e o capital diretamente investido em ações do Banco do Brasil”. Também destacam que “a instituição também se favoreceu da dinâmica de circulação de crédito lastreada na propriedade escrava que imperou ao longo de toda a primeira metade do século XIX”.

O MPF destacou a relação de “mão dupla” da instituição com a economia escravagista da época, o que era agravado pela expressiva presença de pessoas ligadas ao comércio clandestino de africanos e à escravidão no comando da instituição.

No entanto, a nota emitida pelo Banco do Brasil não fez nenhuma menção direta a esses documentos, se aprofundou no histórico e nas raízes do banco ou admitiu os detalhes apontados pelos pesquisadores. 

O pronunciamento focou quase em sua totalidade em apresentar iniciativas de reparação tomadas pela empresa. Na ocasião inclusive foi anunciada a adoção de um conjunto de novas medidas para promover a igualdade, inclusão e combater o racismo. 

Ações de combate ao racismo divulgadas pelo Banco

– Inclusão de cláusula de fomento à diversidade em contratos com fornecedores. A política tem o intuito de fomentar a diversidade em quadros de funcionários dessas empresas, e a geração de empregos;

– Parceria para encaminhar jovens egressos de seu programa Menor Aprendiz do BB para o mercado de trabalho;

– Lançamento neste mês do Edital de Empoderamento Socioeconômico de Mulheres Negras: fruto de protocolo assinado em julho deste ano entre o BB e o Ministério da Igualdade Racial. O Edital apoia o fortalecimento institucional das organizações sociais e empreendimentos econômicos solidários urbanos e rurais de mulheres negras. A previsão é de seleção das propostas até o final de fevereiro do próximo ano.

– Programa de Aceleração “Raça é Prioridade” vai selecionar e desenvolver a carreira de até 150 funcionários negros do BB

Conheça todas as ações anunciadas aqui.O banco criou ainda um site para que seja possível acompanhar as novas medidas anunciadas. A página eletrônica trará atualizações de novas medidas que possam ser anunciadas pelo banco.

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