“Eu gostaria de recontar a história do cinema negro no Brasil, porque me parecia que as histórias eram muito escassas e que ainda existiam coisas a serem reconectadas”, explica Pedro Caribé, coordenador do projeto
Por Andressa Franco
Imagem: @ismaelssa
Com a proposta de apresentar 125 anos de história do cinema negro em Salvador e no Recôncavo a partir do acervo e biografia do militante negro e cineclubista Luiz Orlando da Silva, foi lançado no último dia 26 de abril, o museu digital Cinema de Terreiro.
O museu conta com quatro galerias multimídia com músicas, áudios de entrevistas e dezenas de GIF´s que reconectam memórias em filmes e documentos digitalizados pelo Arquivo Zumví Fotográfico.
A base desse acervo, com cerca de 9000 imagens, é a biblioteca pessoal de Luiz Orlando. São xerox, fotografias, relatórios, artigos, revistas e muitos jornais divididos em 26 categorias e dezenas de palavras-chave. Uma busca sobre suas memórias, e a formação do cinema e do movimento negro no Brasil.
Coordenador do projeto, Pedro Caribé pretende despertar no público a possibilidade de recontar nossa história, não a partir do que ‘o outro’ nos contou, mas a partir da nossa própria perspectiva. Para ele, é preciso retomar as narrativas do cinema negro que, explica, é contado, muitas vezes majoritariamente por brancos.
“Espero que, a partir dos materiais visuais, o público possa viajar nesse mundo que é muito rico e desperta muitos imaginários sensoriais”, afirma sobre o trabalho, que é fruto de uma pesquisa iniciada em 2015 com a tese de seu doutorado. “Eu gostaria de recontar a história do cinema negro no Brasil, porque me parecia que as histórias eram muito curtas, escassas e que ainda existiam coisas a serem reconectadas”, complementa Pedro.
São 26 categorias dentro do acervo, entre elas, o visitante encontra materiais sobre blocos afro, capoeira, cineclubismo baiano e internacional, cinema baiano, brasileiro e internacional, cinema negro internacional, na África, nos EUA, imprensa negra e mais. O site também traz linhas do tempo sobre o Cinema Negro em Salvador, e sobre a vida do próprio Luiz Orlando.
“Nós estamos fora dos espaços de circulação dos museus da chamada alta arte de elite, e o digital nos proporciona um caminho para que nossas formas de troca e fortalecimento em redes enfrente um pouco esse espaços institucionais fechados”, defende.
O projeto foi contemplado no Edital Setorial Audiovisual 2019 e tem apoio financeiro do Governo do Estado, através do Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda, Fundação Cultural do Estado da Bahia e Secretaria de Cultura da Bahia.
Acesse o acervo completo aqui.
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Luiz Orlando
Nasceu no dia 25 de agosto de 1945 na cidade de Salvador, onde torna-se um intelectual estratégico entre fim dos anos 1970 até o falecimento em 2006. A sua herança e ancestralidade está no avô Teotônio, barbeiro e sindicalista; e na mãe Risoleta, doméstica e merendeira.
Orlando foi militante da geração inicial do Movimento Negro Unificado (MNU), educador e militante cineclubista. Trabalhando como funcionário público na UFBA e FUNCEB, levou filmes e livros em uma curadoria que permitiu o encontro entre o público com obras de assunto e autores negros.