Em 08 episódios singulares, a narrativa propõe uma reflexão sobre o modo como o HIV e o Covid tem atingido os corpos gays
Texto: Divulgação
Imagem: Dante Vincenzo
O CORRE Coletivo exibe até o dia 24 de abril os oito episódios do espetáculo teatral singular PARA-ISO. Fruto de um trabalho de pesquisa executado ao longo de meses e 24 dias de imersão criativa entre fevereiro e março, a obra traz uma narrativa que remonta a trajetória de Ele, um homem gay que veio a óbito, a partir da visão de cinco outros personagens.
Os episódios estão sendo disponibilizados gradualmente, um a cada dia. Intitulados “Quebra-pote”, “Casa imaginada”, “Ancestral”, “Os nãos que te afirmam”, “Bixa”, “Comigo ninguém pode”, “Abraço suspenso no tempo” e “Para-iso”, cada um deles apresenta aspectos distintos sobre o modo como o HIV/Aids e o COVID-19 têm atingido os corpos gays, numa tentativa de tecer uma correlação entre as epidemias que distam em 40 anos. Até o lançamento do espetáculo, no último dia 10, já morreram em um ano mais pessoas de COVID-19 do que de HIV/Aids nessas quatro décadas.
Vividas por Anderson Danttas, Igor Nascimento, Luiz Antônio Sena Jr, Marcus Lobo e Rafael Brito – integrante do CORRE – as personagens Leka, Tito, Miguel, Rogério e Paul, respectivamente, se encontram na Casa PARA-ISO, em que Ele morava, na noite de seu velório. Ao passo que enxergam/visitam esse espaço, agora vazio e cheio de mensagens subliminares, transbordam as memórias.
Ao trazer esse enredo e ao mirar para os estigmas criados em torno desses vírus que Ele positivou duplamente. Ao correlacionar as epidemias, o CORRE mira para os modos como ambas foram e são abordadas. Por exemplo: a ideia de grupo de risco como alvo para contágio e proliferação do vírus, no caso do HIV/AIDS a ideia atravessa os corpos gays vistos como propensos a positivarem para o vírus, numa ação perversa de culpabilização – “peste gay”, “câncer gay”; a prerrogativa do isolamento – fechamento de fronteiras, solidão dos corpos que padecem diante de um “diagnóstico”.
A dramaturgia escrita por Luiz Antônio Sena Jr., que também assume a direção, traz ainda o ideal da comunidade imune que acaba por escolher quem deve morrer em virtude da “imunidade”, gerando os corpos demunes – que não estão no padrão ideal, ou seja, que não se alinham a cis-hetero-branco-normatividade. A necropolítica. Outro recorte é a validação do vírus como espectro social que espelha as hierarquias com seus abismos sociais.
PARA-ISO tem na sua ficha técnica Roquildes Junior e Gabriel Carneiro na trilha sonora que conta com música original de LUI, criada especialmente para a obra, figurino de Luiz Santana e captação de imagens de Dante Vicenzo. Produção executiva de Anderson Danttas e Igor Nascimento. A iluminação da Casa tem assinatura de Luiz Antônio Sena Jr e Marcus Lobo, com técnica de Alisson de Sá.
O projeto tem apoio financeiro do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura e da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Programa Aldir Blanc Bahia) via Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria Especial da Cultural do Ministério do Turismo, Governo Federal.