Entidades de Direitos Humanos protocolam ação no Judiciário contra supermercado Atakarejo por mortes de jovens negros e pedem reparação coletiva

Uma Ação Civil Pública foi protocolada pelas entidades Centro Santo Dias de Direitos Humanos, a Associação Educafro e o Odara Instituto da Mulher Negra contra a Rede de Supermercados Atakadão Atakarejo, no Tribunal de Justiça de Salvador - BA, neste último domingo (2 de maio), buscando reparação coletiva em razão da morte de dois jovens negros que foram presos pelos seguranças do supermercado e entregues a traficantes após tentativa de furto de alguns quilos de carne.

Funcionários do Atakadão Atakarejo flagraram o tio Bruno e sobrinho Yan tentando furtar carne e os entregaram para o tráfico que os executou após tortura

Da Redação 

Uma Ação Civil Pública foi protocolada pelas entidades Centro Santo Dias de Direitos Humanos, a Associação Educafro e o Odara Instituto da Mulher Negra contra a Rede de Supermercados Atakadão Atakarejo, no Tribunal de Justiça de Salvador – BA, neste último domingo (2 de maio), buscando reparação coletiva em razão da morte de dois jovens negros que foram presos pelos seguranças do supermercado e entregues a traficantes após tentativa de furto de alguns quilos de carne.

Em 26 de abril, a cidade de Salvador, na Bahia, foi palco de mais um monstruoso episódio da política de genocídio do povo negro, causando comoção e revolta na opinião pública. Dois jovens negros e pobres, vítimas da precarização causada pela pandemia, Bruno Barros da Silva, de 29 anos, e seu sobrinho, Ian Barros da Silva, de 19, foram brutalmente torturados, executados com requintes de crueldade e tiveram os corpos abandonados no porta-malas de um carro por uma facção criminosa à qual foram entregues, para esse fim, por funcionários da rede de supermercados Atakadão Atakarejo, na loja situada no bairro de Amaralina, onde teriam tentado furtar alguns pacotes de carne.

“Este caso comprova a existência do racismo como um dado estrutural. Não tem a ver com palavras. Os atos mostram que as vidas negras não importam no Brasil. Isso precisa mudar”, afirma o advogado Marlon Jacinto Reis, um dos co-autores da Ação Civil Pública.

O ocorrido atrela, mais uma vez, um supermercado ao racismo que mata e mostra como supermercados no Brasil podem ser cenários de atos de violência praticados por seus próprios funcionários. “Precisamos frear a cultura do racismo estrutural no país, a cada dia ficamos perplexos com mais barbáries”, denuncia o também advogado e Diretor Presidente do Centro Santo Dias de Direitos Humanos, Luciano Caparroz Pereira dos Santos.

A Associação Educafro – cuja missão é lutar pelo empoderamento e mobilidade social para a população pobre e afro-brasileira, ressalta que vai priorizar requerer ações por danos morais coletivos e sociais e motivar os familiares das vítimas de tortura e racismo a abrirem ações individuais, a exemplo do que foi feito contra o supermercado Carrefour no caso do Beto Freitas, asfixiado até a morte por seguranças do supermercado, em Porto Alegre.

“Esse processo contra o Carrefour é a ação jurídica que está balizando a reparação da comunidade afro-brasileira. É um forte sinalizador que convoca a comunidade afro-brasileira a usar mais os instrumentos do poder branco para lutar contra o racismo estrutural e institucional”, explica o Frei David Santos, Diretor Executivo da Educafro.

“Estas tragédias atingem diretamente as famílias das vítimas e, em especial, as mães e mulheres negras”, como ressalta Valdecir Nascimento, coordenadora executiva do Odara Instituto da Mulher Negra, organização coautora do processo – que tem como tarefa principal mobilizar as mulheres negras e a sociedade em geral pela defesa da vida do povo negro. “Precisamos zelar para que os princípios constitucionais se efetivem e que as pessoas se sintam provocadas a se levantarem contra toda e qualquer forma de tortura, violência racial e de gênero”, ressalta a ativista.

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