Em entrevista ao “Motor Sport Magazine”, o ex-piloto afirmou que não se considera racista: ” Não há nada, nada que eu disse errado”
Por Andressa Franco
Na última segunda-feira (4), as entidades Educafro, Centro Santo Dias, Aliança Nacional LGBTI+ e ABRAFH protocolaram uma ação pública contra o ex-piloto de 69 anos Nelson Piquet no Tribunal de Justiça do Distrito Federal pedindo uma indenização no valor de R$ 10 milhões. A iniciativa pede reparação de dano moral coletivo e dano social infligidos à população negra, à comunidade LGBTQIA+ e ao povo brasileiro de modo geral.
Não foram apenas as falas racistas que comprometeram Piquet, o brasileiro também fez declarações homofóbicas em relação a Hamilton. “O Keke? Era um bosta, não tinha valor nenhum. É que nem o filho dele [Nico]. Ganhou um campeonato… O neguinho devia estar dando mais cu naquela época, aí tava meio ruim”, disse.
O processo está correndo na 20ª Vara Cível de Brasília, e o valor requerido para indenização pode ser revertido para o Fundo Nacional de Direitos Difusos (FNDB), que recebe projetos destinados a comunidades vulneráveis de todo o país. As informações são do UOL.
“Eu realmente não me importo”
Depois de ser chamado de “neguinho” pelo ex-piloto durante uma entrevista que viralizou no final do último mês, o automobilista Lewis Hamilton chegou a se pronunciar. “Vamos focar em mudar a mentalidade”, escreveu em português nas redes sociais.
“É mais do que linguagem. Essas mentalidades arcaicas precisam mudar e não têm lugar no nosso esporte. Fui cercado por essas atitudes e alvo de minha vida toda. Houve muito tempo para aprender. Chegou a hora da ação”, finalizou o heptacampeão da Fórmula 1.
No entanto, ao invés de se desculpar e reconhecer o erro, Piquet voltou a comentar o caso, minimizando sua repercussão. Em entrevista ao “Motor Sport Magazine”, o ex-piloto afirmou que não se considera racista. “Isso é tudo besteira, eu não sou racista. Não há nada, nada que eu disse errado. O (termo) que eu usei é uma palavra muito suave, até usamos com alguns amigos brancos. Eu realmente não me importo, isso não atrapalha minha vida”.
Antes disso, Piquet chegou a comunicar um pedido de desculpas a Hamilton, argumentando um equívoco na tradução do termo, e alegando que a palavra é usada coloquialmente no Brasil.
Lembre o caso
Em um vídeo divulgado pelo “Canal Enerto”, Nelson Piquet se referiu a Lewis Hamilton como “neguinho” ao comentar um acidente que envolveu o inglês e Max Verstappen, namorado de sua filha, durante o Grande Prêmio de Silverstone de Fórmula 1, na Inglaterra.
Ele criticou o fato de Hamilton não ter tirado o pé do acelerador na primeira volta do Circuito de Silverstone. “O neguinho meteu o carro e não deixou [o outro piloto desviar]. O Senna não fez isso. O Senna saiu reto. O neguinho deixou o carro porque não tinha como passar dois carros naquela curva. Ele fez de sacanagem. A sorte dele foi que só o outro se fud** [Verstappen]. Fez uma put* sacanagem”, disse.
A fala de Piquet aconteceu em julho, quando Hamilton e Verstappen disputavam a ponta da competição, que resultou na vitória do holandês.
O caso teve forte repercussão internacional, a Fórmula 1, a FIA e a Mercedes emitiram nota condenando a linguagem utilizada pelo ex-piloto brasileiro. “Linguagem discriminatória ou racista é inaceitável de qualquer forma e não deve fazer parte da sociedade. Lewis é um embaixador incrível do nosso esporte e merece respeito”, diz trecho da nota da Fórmula 1.