Texto: Divulgação
Deflagrada em 12 de agosto de 1798, a Revolta dos Búzios foi um levante negro revolucionário ocorrido no Brasil colonial, considerado um dos mais amplos do ponto de vista político, econômico e social da história. Neste dia, 11 boletins pedindo liberdade, igualdade e o fim da escravização foram espalhados em pontos estratégicos da capital baiana, boletins que foram chamados de “sediciosos” pela Coroa Portuguesa, e que convocavam os cidadãos a se rebelar contra o império e fundar a “Republica Bahinense”.
A partir do dia 30 de maio, esse episódio pouco lembrado da história do Brasil poderá ser assistido nos cinemas. “1798 – REVOLTA DOS BÚZIOS”, do cineasta baiano Antônio Olavo, leva às telas a influência iluminista da Revolução Francesa (1789) no planejamento do levante que pretendia derrubar o governo colonial, proclamar a independência e implantar uma República democrática, livre da escravidão, onde haveria, conforme acenavam, “igualdade entre os homens pretos, pardos e brancos”.
O filme é uma produção da Portfolium Laboratório de Imagens, com distribuição da Abará Filmes.
Cineasta e pesquisador, que atua com temas ligados à valorização da memória negra, Antônio Olavo trabalha com pesquisa histórica no cinema documental, e destaca que “história do Brasil não é apenas a história das elites brancas.”
Para “1798 – REVOLTA DOS BÚZIOS”, o cineasta partiu dos “Autos da Devassa”, um documento com mais de 2.000 páginas manuscritas no calor da hora com o desdobramento minucioso da grande investigação sobre os acontecimentos. Eles cobrem um período de agosto/1798 a novembro/1799, e são transcrições de dezenas de sessões da Devassa, incluindo a íntegra dos longos depoimentos de mais de 70 pessoas envolvidas na conspiração.
A Revolta dos Búzios, também conhecida como Revolução dos Alfaiates, Conjuração Baiana, Sedição de 1798, Movimento Democrático Baiano e Inconfidência Baiana, é, para o diretor, uma história apaixonante.
“O maior desafio foi construir um filme que fosse digno da grandiosidade do tema. A história ocorreu há 226 anos e terminou de forma trágica com 4 jovens negros enforcados e esquartejados em praça pública diante de milhares de pessoas”, afirma. “Creio que conseguimos fazer um filme positivador, contribuindo para o fortalecimento da história e memória do povo negro no Brasil”, completa.
O cineasta trabalhou no longa por 13 anos, “o tempo necessário para ter um pertencimento do assunto e poder registrar em um filme documentário com a segurança e serenidade que o assunto pedia”.
Para resgatar esse episódio da história de forma mais dinâmica, o documentário se vale de várias linguagens.
Uma triologia das lutas negras na Bahia
O filme faz parte do projeto do diretor de produzir uma trilogia das grandes lutas negras dos séculos XVIII e XIX na Bahia.
Ele conta que iniciou, a partir de 2006, uma pesquisa sobre as grandes insurreições negras da Bahia, em especial as que ocorreram entre o final do século XVIII e o início do século XIX, “período áureo da insurgência negra, em que a então província baiana ganhou a marca indelével de ‘Bahia Rebelde’, por ter protagonizado histórias mobilizadoras de sentimentos negros que marcaram época”.
Estre as muitas lutas, destacam-se a Revolta dos Búzios em 1798, que foi uma conspiração reprimida antes de sua deflagração; a Revolta dos Malês no ano de 1835, considerada a maior rebelião negra da história do Brasil, na qual centenas de homens e mulheres ocuparam as ruas de Salvador na madrugada de 25 de janeiro de 1835, sendo violentamente reprimidos; e finalmente a Sabinada, que liderada por um homem negro, Francisco Sabino, chegou a tomar o poder em novembro de 1837 e ocupou a cidade durante vários meses, tendo também sofrido violenta repressão.
“Essas histórias precisam estar também na filmografia nacional, o cinema brasileiro não pode continuar ignorando esses movimentos. De minha parte, venho desenvolvendo um minucioso e paciente trabalho de pesquisa, buscando condições para levar essas lutas ao cinema, construindo uma trilogia cinematográfica.”
O projeto foi contemplado nos Editais da Paulo Gustavo Bahia e tem apoio financeiro do Governo do Estado da Bahia, através da Secretaria de Cultura via Lei Paulo Gustavo, direcionada pelo Ministério da Cultura e Governo Federal. Paulo Gustavo Bahia (PGBA) foi criada para a efetivação das ações emergenciais de apoio ao setor cultural, visando cumprir a Lei Complementar no 195, de 8 de julho de 2022.
Marco inicial da imprensa negra no Brasil
A Revolta dos Búzios é uma data simbólica para as mídias negras, já que, mesmo em um período em que a imprensa era proibida pela Metrópole portuguesa, a comunicação foi a estratégia utilizada através dos boletins espalhados pela cidade, permitindo que a mensagem fosse propagada, pelos poucos que eram alfabetizados, para a maior parte da população.
As atuais mídias negras são herdeiras da imprensa negra, das revoltas pela liberdade, dos quilombos e dos tantos modos de insurgência de povos escravizados.