Texto: Divulgação
Atravessando o Atlântico em movimento inverso ao fluxo histórico imposto pela colonização, uma comitiva brasileira desembarca nas cidades moçambicanas Maputo e Matola para a edição internacional do projeto Inkumbú: Guardiãs do Tempo, que acontece , entre 6 e 11 de dezembro. A iniciativa, ligada ao Portal Diáspora, marca os 50 anos de relações diplomáticas entre Brasil e Moçambique e consolida um intercâmbio que articula narrativas afro-diaspóricas por meio de oficinas, painéis, encontros e produção audiovisual sediados no Instituto Guimarães Rosa, com atividades também na Associação dos Escritores Moçambicanos e no espaço cultural L’Attelier.
Concebido pelo jornalista e educador interdisciplinar Jadson Nascimento, o Inkumbú cria um ambiente formativo em que jovens partilham práticas de escrita, jornalismo, comunicação comunitária e criação de conteúdos ligados à ancestralidade. O projeto busca se alinhar às perspectivas decoloniais que reposicionam a comunicação como espaço de memória e disputa. Para Jadson, a experiência reafirma o papel da juventude nesse processo. “Estar na África Oriental, especialmente em Moçambique, é reencontrar caminhos que não começam e nem terminam em nós. Vamos aprender com a juventude moçambicana, compartilhar práticas e criar redes que ultrapassam fronteiras”, afirma.
A programação reúne oficinas de múltiplas mídias, painéis multilinguagens e a produção de um mini-documentário que registrará as vivências no território moçambicano. As atividades incluem visitas técnicas a veículos de rádio, revistas e TVs públicas; encontros com comunicadores locais; rodas de diálogo com artistas; e exercícios voltados à escrita e às novas mídias. À frente das formações, Jadson conduz a oficina principal e coordena a construção das metodologias aplicadas durante a imersão.
A equipe brasileira conta também com a jornalista Márcia Eduarda, responsável pela oficina de criação de conteúdo para plataformas digitais, e com o publicitário, fotógrafo e videomaker Alexandro Santos, que ministrará técnicas de filmagem e conduzirá as gravações que irão compor o documentário final.
O projeto busca ressignificar a noção de memória como prática viva, tema presente no próprio nome Inkumbú, palavra do kimbundu, língua africana falada principalmente em Angola, associada ao ato de lembrar. Jadson descreve essa escolha como gesto político. “Inkumbú nasce como afirmação de que recordar é movimento, não acervo morto. Em Moçambique, essa palavra ganha outra vibração, porque nos lembra que viemos de histórias que se cruzam. E que permanecem vivas em nós”, explica. A iniciativa se propõe a fortalecer o reconhecimento dessas conexões ao estimular a circulação de saberes e o diálogo entre comunidades afro-diaspóricas.
Sob curadoria de Juci Reis e Jorge Dias e gestão de Cátia Janainna e Amosse Mucavele, a edição moçambicana do Inkumbú terá registro audiovisual disponibilizado integralmente pelo Portal Diáspora, reforçando o compromisso com a comunicação acessível e comunitária. A realização conta com apoio do Governo da Bahia, por meio do Fundo de Cultura, além da Flotar Plataforma, OMI Plataforma e do Instituto Guimarães Rosa, no âmbito das celebrações pelo cinquentenário das relações Brasil–Moçambique.


